Pisque Duas Vezes (2024)
Uma estreia promissora e impactante que lembra Corra! (2017).
por Giovani Zanirati.
Pisque Duas Vezes (2024)
Direção: Zoë Kravitz
Roteiro: Zoë Kravitz, E. T. Feigenbaum
País: Estados Unidos
Nota: 08/10
Direção: Zoë Kravitz
Roteiro: Zoë Kravitz, E. T. Feigenbaum
País: Estados Unidos
Nota: 08/10
Lançado em 2024, Pisque Duas Vezes marca a estreia de Zoë Kravitz, que, com sua primeira obra, conseguiu atrair atenção tanto da crítica especializada quanto do público em geral. Com uma narrativa envolvente e provocadora, o filme inevitavelmente evoca o clássico Corra! (2017), de Jordan Peele. Embora muitos considerem que comparações podem diminuir a originalidade de uma obra nova, a conexão entre os dois filmes é justa e honesta, refletindo uma admiração pelas fontes de inspiração, e não uma simples cópia. Pisque Duas Vezes bebe, sem dúvida, da mesma fonte de tensão psicológica e crítica social presente em Corra!, mas segue seu próprio caminho ao abordar questões contemporâneas com uma perspectiva única.
Lembrando que em Corra!, a trama segue Chris, um jovem negro que viaja para conhecer os pais de sua namorada, inicialmente receoso pelo fato de ela não ter mencionado a sua origem. A história, que começa com um clima de normalidade, rapidamente se transforma em um pesadelo psicológico, com Chris descobrindo comportamentos estranhos e inquietantes por parte dos funcionários e convidados brancos da casa de seus sogros. Esse suspense crescente revela uma crítica pungente sobre o racismo velado e os perigos do privilégio racial.
No presente filme, Kravitz oferece uma premissa semelhante, explorando a inocência, a paranoia e a tensão crescente que culmina em uma reviravolta perturbadora. A principal diferença está na temática abordada. Ao invés de se concentrar em questões raciais, o filme focaliza a violência contra a mulher, o silenciamento, o poder e o privilégio desenfreado. Ao longo da narrativa, o filme expõe como o dinheiro e o status podem permitir que crimes, especialmente os cometidos por figuras quase intocáveis pela justiça, sejam vistos como uma forma de entretenimento e controle, uma crítica à impunidade e à desigualdade social.
A história segue Frida (Naomi Ackie), e sua amiga Jess (Alia Shawkat), que se infiltram em uma festa promovida por um bilionário da indústria, Slater King (Channing Tatum). O empresário, que está em busca de redenção após cometer um crime (possivelmente um abuso), chama a atenção de todos ao seu redor, desde a mídia até as pessoas comuns, refletindo uma sociedade onde simples gestos de arrependimento, como um pedido de desculpas ou uma menção a Deus, são suficientes para abafar comportamentos condenáveis. Frida, que se encanta por ele, logo é convidada para uma ilha particular onde o bilionário e seus amigos desfrutam de uma vida de lazer e luxo.
No início, o filme se dedica a apresentar um ambiente de aparente liberdade e diversão, com cenas que remetem a um paraíso superficial: piscina, música, drogas e festas. No entanto, assim como em Corra!, o suspense é entregue de maneira gradual. Detalhes como a proibição de celulares e a comunicação com o mundo exterior, comportamentos estranhos de funcionários (que parecem saber mais do que revelam) e o aparecimento de cobras na região vão estabelecendo uma crescente sensação de que algo muito mais sinistro está acontecendo. O que, afinal, está por trás dessa fachada de prazer e riqueza?
Diante do desaparecimento de sua amiga, Frida começa a suspeitar que algo brutal esteja acontecendo. O filme, então, explora a ideia de paranoia, sugerindo que a presença da amiga pode ser fruto da imaginação de Frida, uma vez que os demais personagens no local não parecem reconhecê-la. No entanto, ao relembrar acidentalmente alguns detalhes da noite, ela se dá conta de que está aprisionada. A reviravolta é particularmente interessante, pois permite um desenvolvimento profundo da protagonista, assim como de Sarah (Adria Arjona), que inicialmente parece ocupar um papel secundário, mas ganha importância ao longo da trama.
Originalmente concebido em 2017, Pisque Dias Vezes apresenta uma mensagem perturbadora e relevante, refletindo sobre um dilema real enfrentado por inúmeras mulheres: a violência, o silenciamento e a luta pela justiça. A cineasta utiliza a trama como uma metáfora para vítimas que, ao longo do tempo, são ignoradas e forçadas a "esquecer" para poder seguir em frente, refletindo sobre o silêncio social em torno de casos de abuso e a busca incessante por reconhecimento e justiça.
O elenco do filme é altamente convincente, com destaque para Naomi e Adria, cujas performances exploram de maneira eficaz o dilema das personagens, equilibrando tanto o humor ácido quanto o drama. Em momentos cruciais da trama, quando as duas se deparam com problemas sem um plano definido, elas se veem obrigadas a disfarçar o cenário de horror e angústia com sorrisos falsos. Esse é, sem dúvida, o momento mais tenso do filme, pois reflete com precisão a capacidade da obra de servir como um espelho da sociedade. Quantas mulheres, em situações semelhantes, não se viram forçadas a ocultar sua dor e sofrimento por trás de um sorriso?
Apesar da trama abordar um tema brutal, Pisque Duas Vezes não se limita à angústia e ao desconforto, abraçando também o humor e a ironia, especialmente em sua reta final, onde a obra evoca uma atmosfera semelhante à de Casamento Sangrento (2019). Com uma direção precisa, a cineasta consegue manter o suspense psicológico sem abrir mão de momentos de exagero e leveza, características que enriquecem a narrativa. A história, embora por vezes previsível, entrega reviravoltas inesperadas, quebrando expectativas e proporcionando um desfecho poderoso, que certamente ficará na memória do público.
Lembrando que em Corra!, a trama segue Chris, um jovem negro que viaja para conhecer os pais de sua namorada, inicialmente receoso pelo fato de ela não ter mencionado a sua origem. A história, que começa com um clima de normalidade, rapidamente se transforma em um pesadelo psicológico, com Chris descobrindo comportamentos estranhos e inquietantes por parte dos funcionários e convidados brancos da casa de seus sogros. Esse suspense crescente revela uma crítica pungente sobre o racismo velado e os perigos do privilégio racial.
No presente filme, Kravitz oferece uma premissa semelhante, explorando a inocência, a paranoia e a tensão crescente que culmina em uma reviravolta perturbadora. A principal diferença está na temática abordada. Ao invés de se concentrar em questões raciais, o filme focaliza a violência contra a mulher, o silenciamento, o poder e o privilégio desenfreado. Ao longo da narrativa, o filme expõe como o dinheiro e o status podem permitir que crimes, especialmente os cometidos por figuras quase intocáveis pela justiça, sejam vistos como uma forma de entretenimento e controle, uma crítica à impunidade e à desigualdade social.
A história segue Frida (Naomi Ackie), e sua amiga Jess (Alia Shawkat), que se infiltram em uma festa promovida por um bilionário da indústria, Slater King (Channing Tatum). O empresário, que está em busca de redenção após cometer um crime (possivelmente um abuso), chama a atenção de todos ao seu redor, desde a mídia até as pessoas comuns, refletindo uma sociedade onde simples gestos de arrependimento, como um pedido de desculpas ou uma menção a Deus, são suficientes para abafar comportamentos condenáveis. Frida, que se encanta por ele, logo é convidada para uma ilha particular onde o bilionário e seus amigos desfrutam de uma vida de lazer e luxo.
No início, o filme se dedica a apresentar um ambiente de aparente liberdade e diversão, com cenas que remetem a um paraíso superficial: piscina, música, drogas e festas. No entanto, assim como em Corra!, o suspense é entregue de maneira gradual. Detalhes como a proibição de celulares e a comunicação com o mundo exterior, comportamentos estranhos de funcionários (que parecem saber mais do que revelam) e o aparecimento de cobras na região vão estabelecendo uma crescente sensação de que algo muito mais sinistro está acontecendo. O que, afinal, está por trás dessa fachada de prazer e riqueza?
Diante do desaparecimento de sua amiga, Frida começa a suspeitar que algo brutal esteja acontecendo. O filme, então, explora a ideia de paranoia, sugerindo que a presença da amiga pode ser fruto da imaginação de Frida, uma vez que os demais personagens no local não parecem reconhecê-la. No entanto, ao relembrar acidentalmente alguns detalhes da noite, ela se dá conta de que está aprisionada. A reviravolta é particularmente interessante, pois permite um desenvolvimento profundo da protagonista, assim como de Sarah (Adria Arjona), que inicialmente parece ocupar um papel secundário, mas ganha importância ao longo da trama.
Originalmente concebido em 2017, Pisque Dias Vezes apresenta uma mensagem perturbadora e relevante, refletindo sobre um dilema real enfrentado por inúmeras mulheres: a violência, o silenciamento e a luta pela justiça. A cineasta utiliza a trama como uma metáfora para vítimas que, ao longo do tempo, são ignoradas e forçadas a "esquecer" para poder seguir em frente, refletindo sobre o silêncio social em torno de casos de abuso e a busca incessante por reconhecimento e justiça.
O elenco do filme é altamente convincente, com destaque para Naomi e Adria, cujas performances exploram de maneira eficaz o dilema das personagens, equilibrando tanto o humor ácido quanto o drama. Em momentos cruciais da trama, quando as duas se deparam com problemas sem um plano definido, elas se veem obrigadas a disfarçar o cenário de horror e angústia com sorrisos falsos. Esse é, sem dúvida, o momento mais tenso do filme, pois reflete com precisão a capacidade da obra de servir como um espelho da sociedade. Quantas mulheres, em situações semelhantes, não se viram forçadas a ocultar sua dor e sofrimento por trás de um sorriso?
Apesar da trama abordar um tema brutal, Pisque Duas Vezes não se limita à angústia e ao desconforto, abraçando também o humor e a ironia, especialmente em sua reta final, onde a obra evoca uma atmosfera semelhante à de Casamento Sangrento (2019). Com uma direção precisa, a cineasta consegue manter o suspense psicológico sem abrir mão de momentos de exagero e leveza, características que enriquecem a narrativa. A história, embora por vezes previsível, entrega reviravoltas inesperadas, quebrando expectativas e proporcionando um desfecho poderoso, que certamente ficará na memória do público.
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