Terrifier 3 (2024)

Terrifier 3 (2024)

O que Leone tem para apresentar?

por Giovani Zanirati


Terrifier 3 (2024)
Direção: Damien Leone
Roteiro: Damien Leone
País: Estados Unidos
Nota: 6,5/10

Embora Damien Leone não se situe no mesmo patamar de mestres como Wes Craven ou John Carpenter, é inegável que ele conseguiu elevar sua grande obra, Terrifier, a um nível impressionante, especialmente considerando seu baixo orçamento. Ao contrário de um filme obscuro e perdido no tempo, Terrifier se consolidou como uma franquia sólida dentro do gênero de terror, conseguindo criar uma identidade única, cativando o público e ultrapassando limites com sua violência extrema, personificada pelo icônico Art the Clown (David Howard Thornton).

Embora a estratégia de marketing aposte em frases como "vomitaram no cinema" ou "pessoas passaram mal", é preciso reconhecer que o filme é realmente capaz de provocar esse tipo de desconforto. Trata-se de uma obra visceral e implacável, repleta de gore e imagens perturbadoras, onde a bizarrice se torna quase banal. O universo do personagem parece servir apenas como pano de fundo para Leone brincar com seu psicopata e explorar, de maneira criativa, o uso de um orçamento restrito para criar cenas de gore inigualáveis. A franquia segue evoluindo com sequências planejadas, e o público aguarda para ver até onde Art pode ir em sua busca pela violência sem limites, desafiando até mesmo ícones como Michael Myers e Jason Voorhees, que agora parecem "meninos bonzinhos" do gênero.

Nos primeiro filme, Art protagoniza chacinas brutais contra homens e mulheres, sem maiores explicações, em um estilo que remete à frieza de Myers. Contudo, o segundo filme expandiu a mitologia ao introduzir elementos sobrenaturais, incluindo a ressurreição do vilão, ao estilo Jason, e sua associação com uma entidade demoníaca. Apesar de ter aparentemente encontrado seu fim nas mãos de Sienna Shaw (Lauren LaVera), a revelação de uma conexão entre o vilão e o mal ancestral ligado ao seu pai trouxe um novo fôlego para a história. Cinco anos depois, Art retorna para devastar um Natal aparentemente pacífico, agora acompanhado de Victoria (Samantha Scaffidi), a primeira final girl, que sobreviveu ao seu ataque, mas ficou marcada por traumas profundos. E, desta vez, ela não está sozinha: o espírito demoníaco que a possui expande ainda mais a mitologia em torno de Art, dando um novo contorno à trama.

Enquanto isso, Sienna luta para superar o trauma de suas experiências anteriores. Após testemunhar as mortes de amigos e de sua mãe, ela vive com tios e a prima Gabbie (Antonella Rose), e passa por períodos de internação e medicação, mas ainda é atormentada por pesadelos e visões de Art. O passado de seu pai oferece um contexto mais profundo à personagem, reforçando o simbolismo e a conexão com o mal que a cerca. O irmão de Sienna, Jonathan (Elliot Fullam), aparentemente conseguiu superar os horrores causados pelo vilão, mas como ocorre com Laurie Strode (em Halloween) e Sidney Prescott (em Pânico), o trauma da final girl é central para o desenvolvimento da trama. A sensação de que o passado retornará impede Sienna de viver plenamente o presente e criar uma perspectiva de futuro.

Enquanto Sienna busca a paz interior, Art continua sua carnificina, destruindo a vida de jovens, adultos e idosos com uma violência cruel e sem piedade. O desconforto causado por Art é palpável, seja por suas ações, seu humor mórbido, sua aparência grotesca, sua mímica ou seu sorriso perturbador. Art subverte elementos do subgênero slasher ao fazer de crianças suas vítimas, estabelecendo-se como um novo ícone do terror. As cenas, com maior destaque para a do banheiro, numa combinação de Psicose (1960) e o Massacre da Serra Elétrica (1974), são reforçadas quase sempre no detalhe, com a aproximação da câmera diante corpos dilacerados.

A narrativa, no entanto, é mais uma vez frágil e cansativa. Ela serve como mero pano de fundo para sequências implacáveis, nas quais Leone utiliza a figura do mal como uma plataforma para expandir a experiência do horror. Isso torna Terrifier um filme de digestão conturbada. Ocorre a necessidade de uma construção sólida que se aprofunda em seu simbolismo e mistério, numa fórmula que mistura slasher e elementos sobrenaturais, que remete a clássicos como Evil Dead (de Sam Raimi), com demônios e inferno permeando a história. Em muitos aspectos, Sienna emerge como uma versão feminina de Ash, o protagonista de Raimi, e, ao conhecer bem seu público, Leone entrega exatamente o que se espera dele. Contudo, após três filmes e um "prequel" cujos vínculos com a continuidade ainda geram dúvidas, chega o momento para a franquia expandir seus horizontes e entregar algo além do que já foi visto.

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