O Homem Invisível (2020)

O Homem Invisível (2020)

É assim que se faz um remake.

por Giovani Zanirati.


O Homem Invisível (2020)
Direção: Leigh Whannell
Roteiro: Leigh Whannell
País: Estados Unidos
Nota: 08/10

Embora não seja contra remakes, reboots, prequels e adaptações de obras (supostamente) saturadas, acredito que esses novos produtos devem contribuir para a sétima arte por meio de uma abordagem pessoal e criativa, respeitando e, se possível, inovando o material original. Um exemplo disso é Psicose (1960), o clássico de Alfred Hitchcock. Em 1998, foi produzido um remake de Gus Van Sant que simplesmente reproduz quadro a quadro o filme original, com pequenas alterações no texto. Essa abordagem “copia e cola” não é algo que me agrada. Em contrapartida, a série Bates Motel (2013-2017), que reinterpreta o passado de Norman e Norma Bates, consegue ser uma prequel independente e inovador, com um final completamente diferente do filme de Hitchcock. Embora nem sempre os resultados sejam satisfatórios, considero valioso esse tipo de risco e inovação.

Nesse contexto, O Homem Invisível (2020), dirigido por Leigh Whannell, é um exemplo notável de como um filme pode inovar dentro de um universo narrativo já conhecido. A história, originalmente criada por H.G. Wells em 1897, ganhou uma versão cinematográfica clássica em 1933 pela Universal, dirigida por James Whale. Embora a adaptação tenha tomado liberdades artísticas, a premissa central permanece a mesma: o cientista Jack Griffin descobre a fórmula da invisibilidade, mas ao testar em si mesmo, torna-se incapaz de reverter o processo, o que o leva a se tornar uma ameaça para aqueles ao seu redor.

A trama de Whannell, no entanto, toma um rumo radicalmente diferente, deslocando o foco do enredo original para o trauma psicológico causado por relacionamentos abusivos, um tema que ressoa fortemente com a sociedade contemporânea, especialmente no que diz respeito às mulheres. Ao invés da ciência descontrolada, o filme aborda as dinâmicas de abuso psicológico e a invisibilidade que muitas vítimas enfrentam dentro de relações tóxicas e opressivas, frequentemente ignoradas ou negligenciadas pela sociedade patriarcal.

Em O Homem Invisível, acompanhamos Cecília (Elisabeth Moss), uma mulher que, no início do filme, foge desesperadamente de uma mansão isolada, cercada por um imenso muro e localizada no meio de uma floresta. Com a ajuda de sua irmã, ela escapa do namorado, Griffin (Oliver Jackson-Cohen), um cientista especializado em óptica. Após a alegada morte de Griffin por suicídio, Cecília tenta reconstruir sua vida, mas logo começa a ser atormentada por eventos inexplicáveis, como cobertores que desaparecem enquanto ela dorme, sons misteriosos e e-mails ofensivos enviados em seu nome. Isso a leva a acreditar que seu ex-namorado, agora invisível, está vivo e em busca de vingança, tentando fazê-la parecer mentalmente instável.

O filme acerta logo no início ao estabelecer, de forma rápida e eficaz, o contexto de um relacionamento abusivo. A casa isolada em que Cecília se encontra é uma metáfora da prisão psicológica em que ela vive, enquanto Griffin, como cientista especializado em óptica, é apresentado de maneira a reforçar a plausibilidade da sua invisibilidade. Não há explicações desnecessárias ou excessivas, o que permite que o espectador se envolva na trama de maneira direta.

O trauma de Cecília é abordado com sensibilidade e intensidade, refletindo a experiência de muitas mulheres que, mesmo após o término de um relacionamento abusivo, continuam a sentir os efeitos psicológicos da violência sofrida. A narrativa se desvia do suspense convencional ao colocar a protagonista em uma luta solitária contra um inimigo invisível, simbolizando a invisibilidade que muitos agressores mantêm diante da sociedade e da justiça.

No que diz respeito ao suspense, O Homem Invisível apresenta momentos de grande tensão, especialmente na cena no restaurante, que é impactante e visceral. No entanto, quando o filme envolve outros personagens, como a polícia, a trama perde um pouco da sutileza e sofisticação que permeiam o restante da obra. O clímax, com suas reviravoltas, é bem executado, e o final traz uma resolução que, embora não isenta de falhas, faz sentido dentro do contexto psicológico e narrativo do filme.

Por fim, apesar de não ser perfeito, o trabalho consegue honrar a obra original de H.G. Wells, ao mesmo tempo que oferece uma nova perspectiva, relevante para os tempos atuais. A inovação na trama, aliada à performance marcante de Elisabeth Moss como Cecília, faz com que o filme se destaque no gênero de suspense e terror psicológico, atraindo tanto fãs da obra original quanto uma nova geração de espectadores.

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