O Homem Invisível (1933)

O Homem Invisível (1933)

A Universal Pictures e a formação do gênero de terror cinematográfico: O Homem Invisível (1933)

por Giovani Zanirati.



O Homem Invisível (1933)
Direção: James Whale
Roteiro: R.C. Sherriff
País: Estados Unidos
Nota: 8,5/10

Ainda influenciada pelo Expressionismo Alemão, a Universal Pictures desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento e na expansão do gênero de terror e ficção científica, especialmente durante a década de 1930. O estúdio se destacou ao adaptar obras literárias clássicas, como Frankenstein (1818), O Médico e o Monstro (1886) e Drácula de Bram Stoker (1897), entre outras. Embora os trabalhos literários tenham sua importância indiscutível, foram as versões cinematográficas que ajudaram a solidificar a imagem dos icônicos monstros, como Frankenstein (1931) e Drácula (1931). As figuras de Boris Karloff e Bela Lugosi são, até hoje, associadas a essas criaturas imortais, provando o impacto duradouro dessas adaptações.

Em 1933, a Universal continuou sua jornada por este universo com O Homem Invisível, dirigido por James Whale , responsável por Frankenstein (1931) e A Noiva de Frankenstein (1935), que, apesar de não ter alcançado o mesmo peso histórico das adaptações mencionadas, apresenta uma qualidade semelhante, senão superior. Baseado na obra de H.G. Wells, um dos grandes nomes da ficção científica, o filme mistura terror, suspense, ficção científica e até mesmo humor, criando uma experiência única. Embora apresente certas liberdades criativas, O Homem Invisível mantém-se fiel ao espírito do livro, de 1897, ao contrário de outros cujas adaptações sofreram influências do teatro, mais do que propriamente dos textos literários.

A trama segue o cientista Jack Griffin (Claude Rains), que chega a uma pousada durante um inverno rigoroso. Sua aparência enigmática, com o corpo e rosto cobertos, junto a uma personalidade reclusa, desperta desconfiança entre os habitantes do local. A tensão aumenta quando ele exige total privacidade para realizar seus experimentos científicos. Não demora para que a verdadeira natureza de Griffin seja revelada: ele é o Homem Invisível. Após testar uma fórmula, o cientista perde sua visibilidade e passa a procurar um antídoto. Porém, sua crescente deterioração psicológica transforma o cientista em uma ameaça mortal.

Como a obra de Wells, o filme aborda os perigos da ciência sem controle, questionando a ética e as consequências das inovações tecnológicas. No entanto, explicação sobre a fórmula que torna Griffin invisível e seus efeitos são simplórias, o que direciona a narrativa para um confronto banal entre o cientista e a sociedade, transformando-o em uma figura maniqueísta: o vilão que se torna cada vez mais perigoso à medida que sua mente se fragmenta. O que realmente distingue é o suspense, devido a performance de Claude Rains. Embora Boris Karloff tenha sido inicialmente cogitado para o papel de Jack Griffin, a Universal optou por Rains devido à sua habilidade vocal e dramática.

Karloff, conhecido por seus papéis imponentes como Frankenstein, não se alinhava com a abordagem mais sutil e psicológica exigida para o papel de Griffin. Rains, com sua experiência teatral e sua voz hipnotizante, trouxe uma camada de complexidade emocional que intensificou a tensão da trama, especialmente em sua icônica gargalhada, que imagino deve ter sido um modelo para figuras como o Chucky de Brad Dourif. Assim, ele convence no papel designado, onde nem mesmo a presença de sua amada Flora Cranley (Glória Stuart), personagem exclusivo do filme, foi capaz de controlar a sua insanidade, que já planejava se aproveitar da invisibilidade para dominar o mundo.

Apesar de sua qualidade, o filme não está isento de falhas. O uso de humor, em certas cenas, pode parecer desproporcional à gravidade da situação, especialmente quando a interação com os personagens secundários, como a dona da pousada, adota um tom cômico. Em uma das cenas mais notórias, Griffin humilha a polícia de uma maneira cômica, no melhor estilo de Buster Keaton ou Chaplin, que, embora engraçada, reduz a intensidade da narrativa. Os efeitos especiais, embora limitados pela tecnologia da época, são notáveis. A Universal utilizou técnicas inovadoras de composição de múltiplas exposições para criar a ilusão da invisibilidade de Griffin, permitindo que ele se movesse por cenários sem ser visto. Objetos guiados por fios, como roupas e utensílios, também ajudaram a criar a sensação de presença do personagem, mesmo sem sua forma física.

Embora O Homem Invisível tenha seus problemas como qualquer filmes da era, sua importância no desenvolvimento do gênero de terror e ficção científica é inegável. A história de Griffin, com seus dilemas psicológicos e científicos, permanece relevante, influenciando gerações de cineastas. Com o sucesso do filme, a Universal lançou várias sequências, sobre as quais pretendo escrever em futuras análises.

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