Halloween – O Início (2007)
O renascimento problemático da franquia sob a visão de Rob Zombie.
por Giovani Zanirati.
Halloween – O Início (2007)
Direção: Rob Zombie
Roteiro: Rob Zombie
País: Estados Unidos
Nota: 05/10
Direção: Rob Zombie
Roteiro: Rob Zombie
País: Estados Unidos
Nota: 05/10
Halloween: Ressurreição (2002) foi um retumbante fracasso de público e crítica, enterrando mais uma vez os planos para a franquia, já em seu sétimo filme — ou oitavo, se incluirmos Halloween III: A Noite das Bruxas (1982). Na tentativa de revitalizar a série, a Dimension Films decidiu apostar em um remake do clássico de 1978, dirigido por John Carpenter, delegando a tarefa ao músico e cineasta Rob Zombie. Atuando também como roteirista, Zombie apresentou um prequel/remake que se tornaria uma das produções mais controversas de toda a franquia. As críticas mais severas, vindas de fãs nostálgicos e até do próprio Carpenter, recaíram sobre a contextualização do passado de Michael Myers e a drástica mudança de ritmo da obra. O suspense psicológico, marca registrada do original, deu lugar a uma violência explícita e visceral. Mas será que esses são, de fato, os principais problemas do filme?
Não sou, por princípio, contra remakes. Acredito, no entanto, que uma história recontada deve oferecer dois elementos essenciais: respeito pela obra original e adições criativas que justifiquem sua existência. Simples cópias, como o remake de Psicose (1960), lançado nos anos 1990, podem até apresentar a história a um novo público, mas pouco contribuem para a evolução do cinema. No caso de Halloween: O Início, Rob Zombie buscou diferenciar sua visão, inserindo elementos corajosos e explorando novos ângulos na mitologia do vilão. Ainda assim, sua abordagem polarizou opiniões. Zombie descontextualizou a "Forma" — conceito que Carpenter usou para retratar Myers como o mal absoluto — transformando-o em fruto de um lar disfuncional e de uma sociedade doente. Embora muitos fãs tenham rejeitado essa humanização, considero a ideia válida e, em vários aspectos, mais coerente do que as explicações esotéricas e a seita druida introduzidas em Halloween 6: A Última Vingança (1995). O problema principal de Halloween: O Início não está na proposta, mas em sua execução.
A trama detalha o jovem Michael Myers (Daeg Faerch), aos 10 anos, vivendo em um lar caótico. Sua mãe, Deborah (Sheri Moon Zombie), trabalha como stripper para sustentar a família após a morte do marido. O padrasto, Ronnie (William Forsythe), é violento e abusivo, enquanto sua irmã Judith (Hanna R. Hall) demonstra desprezo por ele. Já na escola, Michael sofre bullying severo. Esse ambiente tóxico é essencial para o arco narrativo, mas Zombie amplifica a degradação de forma tão extrema que o espectador sente-se sufocado pelo excesso. Ele não poupa detalhes: Michael mata animais, fotografa as atrocidades e, em uma fatídica noite de Halloween, assassina o colega de escola, o padrasto, o cunhado e, por fim a irmã. Apenas o bebê da família, Angel (futura Laurie Strode), é poupado. Essa sequência reforça a ambiguidade do personagem: seria ele produto do meio ou o mal já habitava sua essência?
Apesar das camadas psicológicas, a obra exagera na violência gráfica. O que no original era sugestão e suspense aqui torna-se explícito, muitas vezes sacrificando o impacto narrativo por choques momentâneos. Após os crimes, Myers é internado no Smith’s Grove, onde desenvolve uma relação intrigante com o Dr. Samuel Loomis, interpretado pelo experiente Malcolm McDowell. Esses momentos são, sem dúvida, o ponto alto do filme. A deterioração de Loomis, incapaz de resgatar a humanidade de Myers, é tão marcante quanto a perda gradual da consciência de Michael. Aqui, Zombie acerta ao explorar a ambiguidade de Myers: ele parece genuinamente não reconhecer seus atos, chegando a perguntar à mãe: "Como estão todos em casa?". Seria uma provocação intencional do garoto ou ele não lembrava dos crimes ? Essa dualidade é interessante e dá ao filme uma profundidade que, infelizmente, se perde na segunda metade.
Originalmente, Rob Zombie pretendia focar exclusivamente no prequel, mas pressões dos produtores o forçaram a incluir a tradicional perseguição em Haddonfield. A partir daí, o filme mergulha em uma narrativa apressada, com câmeras frenéticas e cenas confusas que comprometem a experiência do espectador. Laurie Strode (Scout Taylor- Compton), embora atualizada e menos inocente, não recebe o desenvolvimento necessário, pois a trama prioriza a brutalidade de Myers. O confronto final entre os irmãos exemplifica essa abordagem caótica: longo, exaustivo e visualmente desorientador. O filme repete o roteiro do clássico, porém com mudanças pontuais sobre o comportamento do vilão. Se no original, suas ações são inexplicáveis (desconsidero a relação de parentesco com Laurie e a seita), no remake, Myers busca se reconectar com sua irmã. Isso mostra que ainda existia um pouco de humanidade dentro da Forma. Mas seria suficiente para mudá-la?
Halloween: O Início apresenta uma ousadia admirável, mas falha em sua condução. O excesso de violência e a estética perturbadora de Zombie tornam o filme cansativo, ofuscando os elementos mais promissores, como a interação entre Myers e Loomis. Se o diretor tivesse conseguido trabalhar em uma narrativa mais sutil, respeitando o legado do suspense psicológico de Carpenter, poderia ter entregue uma obra mais impactante e memorável. No entanto, mesmo com suas falhas, Halloween: O Início ainda é mais coerente do que muitas das sequências lançadas anteriormente. Em suma, a ousadia de Rob Zombie merece reconhecimento, mas sua execução reflete os limites de sua abordagem estilística e a interferência dos estúdios.
Não sou, por princípio, contra remakes. Acredito, no entanto, que uma história recontada deve oferecer dois elementos essenciais: respeito pela obra original e adições criativas que justifiquem sua existência. Simples cópias, como o remake de Psicose (1960), lançado nos anos 1990, podem até apresentar a história a um novo público, mas pouco contribuem para a evolução do cinema. No caso de Halloween: O Início, Rob Zombie buscou diferenciar sua visão, inserindo elementos corajosos e explorando novos ângulos na mitologia do vilão. Ainda assim, sua abordagem polarizou opiniões. Zombie descontextualizou a "Forma" — conceito que Carpenter usou para retratar Myers como o mal absoluto — transformando-o em fruto de um lar disfuncional e de uma sociedade doente. Embora muitos fãs tenham rejeitado essa humanização, considero a ideia válida e, em vários aspectos, mais coerente do que as explicações esotéricas e a seita druida introduzidas em Halloween 6: A Última Vingança (1995). O problema principal de Halloween: O Início não está na proposta, mas em sua execução.
A trama detalha o jovem Michael Myers (Daeg Faerch), aos 10 anos, vivendo em um lar caótico. Sua mãe, Deborah (Sheri Moon Zombie), trabalha como stripper para sustentar a família após a morte do marido. O padrasto, Ronnie (William Forsythe), é violento e abusivo, enquanto sua irmã Judith (Hanna R. Hall) demonstra desprezo por ele. Já na escola, Michael sofre bullying severo. Esse ambiente tóxico é essencial para o arco narrativo, mas Zombie amplifica a degradação de forma tão extrema que o espectador sente-se sufocado pelo excesso. Ele não poupa detalhes: Michael mata animais, fotografa as atrocidades e, em uma fatídica noite de Halloween, assassina o colega de escola, o padrasto, o cunhado e, por fim a irmã. Apenas o bebê da família, Angel (futura Laurie Strode), é poupado. Essa sequência reforça a ambiguidade do personagem: seria ele produto do meio ou o mal já habitava sua essência?
Apesar das camadas psicológicas, a obra exagera na violência gráfica. O que no original era sugestão e suspense aqui torna-se explícito, muitas vezes sacrificando o impacto narrativo por choques momentâneos. Após os crimes, Myers é internado no Smith’s Grove, onde desenvolve uma relação intrigante com o Dr. Samuel Loomis, interpretado pelo experiente Malcolm McDowell. Esses momentos são, sem dúvida, o ponto alto do filme. A deterioração de Loomis, incapaz de resgatar a humanidade de Myers, é tão marcante quanto a perda gradual da consciência de Michael. Aqui, Zombie acerta ao explorar a ambiguidade de Myers: ele parece genuinamente não reconhecer seus atos, chegando a perguntar à mãe: "Como estão todos em casa?". Seria uma provocação intencional do garoto ou ele não lembrava dos crimes ? Essa dualidade é interessante e dá ao filme uma profundidade que, infelizmente, se perde na segunda metade.
Originalmente, Rob Zombie pretendia focar exclusivamente no prequel, mas pressões dos produtores o forçaram a incluir a tradicional perseguição em Haddonfield. A partir daí, o filme mergulha em uma narrativa apressada, com câmeras frenéticas e cenas confusas que comprometem a experiência do espectador. Laurie Strode (Scout Taylor- Compton), embora atualizada e menos inocente, não recebe o desenvolvimento necessário, pois a trama prioriza a brutalidade de Myers. O confronto final entre os irmãos exemplifica essa abordagem caótica: longo, exaustivo e visualmente desorientador. O filme repete o roteiro do clássico, porém com mudanças pontuais sobre o comportamento do vilão. Se no original, suas ações são inexplicáveis (desconsidero a relação de parentesco com Laurie e a seita), no remake, Myers busca se reconectar com sua irmã. Isso mostra que ainda existia um pouco de humanidade dentro da Forma. Mas seria suficiente para mudá-la?
Halloween: O Início apresenta uma ousadia admirável, mas falha em sua condução. O excesso de violência e a estética perturbadora de Zombie tornam o filme cansativo, ofuscando os elementos mais promissores, como a interação entre Myers e Loomis. Se o diretor tivesse conseguido trabalhar em uma narrativa mais sutil, respeitando o legado do suspense psicológico de Carpenter, poderia ter entregue uma obra mais impactante e memorável. No entanto, mesmo com suas falhas, Halloween: O Início ainda é mais coerente do que muitas das sequências lançadas anteriormente. Em suma, a ousadia de Rob Zombie merece reconhecimento, mas sua execução reflete os limites de sua abordagem estilística e a interferência dos estúdios.
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