Halloween 2 (2009)
A desastrosa sequência de Rob Zombie.
por Giovani Zanirati.
Halloween 2 (2009)
Direção: Rob Zombie
Roteiro: Rob Zombie
País: Estados Unidos
Nota: 01/10
Direção: Rob Zombie
Roteiro: Rob Zombie
País: Estados Unidos
Nota: 01/10
Halloween: O Início (2007), dirigido por Rob Zombie, foi uma tentativa corajosa de explorar o passado e a psique de Michael Myers, oferecendo uma abordagem mais psicológica e detalhada para o icônico assassino. No entanto, ao contrário da visão original do cineasta, a obra acabou seguindo o caminho da refilmagem do clássico de John Carpenter, o que a torna uma experiência ambígua, podendo ser descrita como "dois filmes em um". Apesar das críticas mistas, o filme teve grande sucesso de bilheteira, o que abriu portas para uma sequência. Inicialmente, Zombie não tinha interesse em continuar na franquia Halloween, devido às intervenções dos executivos, que comprometeram sua liberdade criativa.
Contudo, ciente de que Halloween 2 seria produzido com ou sem sua participação, o cineasta decidiu retomar o projeto, assumindo as funções de diretor, roteirista e produtor. Mal sabia ele, porém, que ao aceitar a tarefa de conduzir o filme, teria que novamente lidar com as mesmas questões burocráticas. O resultado foi, portanto, a criação de uma obra conturbada, uma moldada pelo cinema comercial (com interferências dos mesmos executivos) e outro, mais fiel à visão do diretor. Isso sem contar, é claro, as inúmeras cenas cortadas que acabaram impactando o produto final.
Como discutido na análise do filme anterior, Halloween: O Início se divide em um prequel e um remake. Na primeira parte, a obra explora o passado de Michael Myers, incluindo sua relação com o Dr. Samuel Loomis, até o momento em que escapa do sanatório Smith's Grove. Na segunda parte, ocorre essencialmente a refilmagem do clássico de 1978, com Myers sendo supostamente morto pela irmã, Laurie (Scout Taylor- Compton) . O filme adquire características marcantes do cineasta, sacrificando o suspense em favor da violência e da brutalidade. Neste segundo filme, Rob Zombie preserva os elementos do seu prequel/remake, ampliando-os com uma explosão psicológica. No entanto, enquanto o primeiro foca na construção do assassino, o segundo dedica maior atenção à perturbada Laurie.
O filme inicia-se exatamente onde o anterior termina. Strode caminha pela rua, transtornada e ensanguentada, quando é encontrada pelo xerife Brackett (Brad Dourif), que a transporta para o hospital. Paralelamente, dois legistas – um deles com uma atitude grotesca, que preserva a essência perturbadora característica de Zombie na construção de seus personagens – transportam o corpo de Michael Myers, até que, acidentalmente, atropelam uma vaca. Nesse momento, o assassino "retorna à vida" e, de maneira impiedosa, elimina um dos legistas. Em seguida, ele começa a visualizar o espírito de sua mãe, acompanhada por um cavalo branco. Laurie desperta no hospital, sendo então perseguida por seu irmão, mas logo revela-se que essa intensa cena era apenas um pesadelo. Na realidade, ela se encontra morando com o xerife Bracket e sua amiga Annie (Danielle Harris), uma das sobreviventes do massacre. Laurie, em profundo estado de depressão após os terríveis ataques da Forma, vê sua mente destruída, mesmo que seu corpo tenha sobrevivido.
Em Halloween 2, a degradação psicológica e moral da jovem é evidenciada de maneira drástica, contrastando fortemente com a jovem doce e moderna que surgiu em O Início. Assolada por pesadelos perturbadores, uma alegada conexão espiritual com seu irmão e dificuldades de socialização, ela parece incapaz de superar tamanha adversidade. Enquanto isso, Myers, acompanhado pelo espírito de sua mãe, dirige-se a Haddonfield em busca de um reencontro com a caçula, deixando um rastro de sangue por onde passa. Adicionalmente, o filme também oferece espaço para a queda de outro personagem: o Dr. Loomis. Interpretado por Donald Pleasence na franquia original, o clássico personagem assumia a figura de um Van Helsing moderno. No entanto, na versão de Rob Zombie, interpretado por Malcolm McDowell, Loomis adquire novas camadas e, neste filme, se transforma em um oportunista vulgar, que lança um livro revelando segredos cruciais sobre Michael Myers e Laurie.
O que não funcionou no primeiro filme foi intensificado, enquanto o que obteve algum êxito foi, por sua vez, abandonado. Na tentativa de criar uma obra audaciosa, repleta de alegorias psicanalíticas, críticas sociais e uma violência extrema, o resultado é uma experiência confusa e desagradável. Diversos elementos causam desconforto, sendo o excesso o mais evidente entre eles. A obra se caracteriza por um caos constante, sem espaço para uma pausa ou alívio, o que a torna excessivamente pesada. A violência é mais explícita, com cenas brutais apresentadas em detalhes gráficos, com a intenção de gerar um intenso desconforto no espectador.
Como discutido na análise do filme anterior, Halloween: O Início se divide em um prequel e um remake. Na primeira parte, a obra explora o passado de Michael Myers, incluindo sua relação com o Dr. Samuel Loomis, até o momento em que escapa do sanatório Smith's Grove. Na segunda parte, ocorre essencialmente a refilmagem do clássico de 1978, com Myers sendo supostamente morto pela irmã, Laurie (Scout Taylor- Compton) . O filme adquire características marcantes do cineasta, sacrificando o suspense em favor da violência e da brutalidade. Neste segundo filme, Rob Zombie preserva os elementos do seu prequel/remake, ampliando-os com uma explosão psicológica. No entanto, enquanto o primeiro foca na construção do assassino, o segundo dedica maior atenção à perturbada Laurie.
O filme inicia-se exatamente onde o anterior termina. Strode caminha pela rua, transtornada e ensanguentada, quando é encontrada pelo xerife Brackett (Brad Dourif), que a transporta para o hospital. Paralelamente, dois legistas – um deles com uma atitude grotesca, que preserva a essência perturbadora característica de Zombie na construção de seus personagens – transportam o corpo de Michael Myers, até que, acidentalmente, atropelam uma vaca. Nesse momento, o assassino "retorna à vida" e, de maneira impiedosa, elimina um dos legistas. Em seguida, ele começa a visualizar o espírito de sua mãe, acompanhada por um cavalo branco. Laurie desperta no hospital, sendo então perseguida por seu irmão, mas logo revela-se que essa intensa cena era apenas um pesadelo. Na realidade, ela se encontra morando com o xerife Bracket e sua amiga Annie (Danielle Harris), uma das sobreviventes do massacre. Laurie, em profundo estado de depressão após os terríveis ataques da Forma, vê sua mente destruída, mesmo que seu corpo tenha sobrevivido.
Em Halloween 2, a degradação psicológica e moral da jovem é evidenciada de maneira drástica, contrastando fortemente com a jovem doce e moderna que surgiu em O Início. Assolada por pesadelos perturbadores, uma alegada conexão espiritual com seu irmão e dificuldades de socialização, ela parece incapaz de superar tamanha adversidade. Enquanto isso, Myers, acompanhado pelo espírito de sua mãe, dirige-se a Haddonfield em busca de um reencontro com a caçula, deixando um rastro de sangue por onde passa. Adicionalmente, o filme também oferece espaço para a queda de outro personagem: o Dr. Loomis. Interpretado por Donald Pleasence na franquia original, o clássico personagem assumia a figura de um Van Helsing moderno. No entanto, na versão de Rob Zombie, interpretado por Malcolm McDowell, Loomis adquire novas camadas e, neste filme, se transforma em um oportunista vulgar, que lança um livro revelando segredos cruciais sobre Michael Myers e Laurie.
O que não funcionou no primeiro filme foi intensificado, enquanto o que obteve algum êxito foi, por sua vez, abandonado. Na tentativa de criar uma obra audaciosa, repleta de alegorias psicanalíticas, críticas sociais e uma violência extrema, o resultado é uma experiência confusa e desagradável. Diversos elementos causam desconforto, sendo o excesso o mais evidente entre eles. A obra se caracteriza por um caos constante, sem espaço para uma pausa ou alívio, o que a torna excessivamente pesada. A violência é mais explícita, com cenas brutais apresentadas em detalhes gráficos, com a intenção de gerar um intenso desconforto no espectador.
Como consequência, o filme se torna barulhento, dominado por gritos e insultos. Os sonhos e delírios de Laurie também refletem essas características opressivas, com ela, em quase todos os momentos, em um estado de choro ou gritos — um retrato de uma pessoa traumatizada. O problema, contudo, é que os outros personagens não se distanciam muito desse padrão: são igualmente irritantes e vulgarmente exagerados. Impressiona o fato de que, em grande parte da obra, o texto insiste em apresentar elementos para chocar, como a cena inicial em que um legista faz uma referência explícita à necrofilia, com ênfase em sua expressão doentia. Qual necessidade? Por que não conversam sobre qualquer outro assunto? Tinha que mencionar algo tão repulsivo, com foco na expressão ainda mais repulsiva dó legista?
Contudo, nada supera o impacto negativo que o filme causou em relação ao personagem Loomis. Reconheço, é claro, a ousadia da obra ao desconstruir esse ícone, transformando-o em um sujeito sem escrúpulos que lucra com a dor alheia. No entanto, é evidente a perspectiva crítica ao abordar a glorificação da violência e a figuração de assassinos notórios, como Jeffrey Dahmer, que muitas vezes são idealizados de forma paradoxal. O próprio personagem menciona que 'o mau gosto vende', sugerindo, talvez, uma metalinguagem em que Loomis represente Rob Zombie apresentando seu 'livro' sobre Michael Myers (que, neste caso, seria o próprio filme), enquanto os fãs obcecados pelo doutor e pelo psicopata representam os entusiastas do filme. Uma reflexão intrigante, não? Pelo menos, o personagem interpretado por Brad Dourif consegue mais uma vez se destacar, sendo, sem dúvida, o melhor da obra, em uma cena que se torna, por si só, verdadeiramente memorável.
O longa-metragem apresenta dois finais, ambos transmitindo mensagens semelhantes, embora um deles inclua um momento controverso: a primeira palavra proferida por Myers em mais de 15 anos, um gesto que compromete a aura enigmática do personagem. Mas tudo já tinha sido desconstruído, né ? (lembrando que, em boa parte do filme, a Forma estava sem máscara). Em última análise, Halloween 2 é um filme inegavelmente polêmico e divisivo. São poucas as qualidades, para ser justo, que realmente funcionam de maneira satisfatória e orgânica.
Contudo, nada supera o impacto negativo que o filme causou em relação ao personagem Loomis. Reconheço, é claro, a ousadia da obra ao desconstruir esse ícone, transformando-o em um sujeito sem escrúpulos que lucra com a dor alheia. No entanto, é evidente a perspectiva crítica ao abordar a glorificação da violência e a figuração de assassinos notórios, como Jeffrey Dahmer, que muitas vezes são idealizados de forma paradoxal. O próprio personagem menciona que 'o mau gosto vende', sugerindo, talvez, uma metalinguagem em que Loomis represente Rob Zombie apresentando seu 'livro' sobre Michael Myers (que, neste caso, seria o próprio filme), enquanto os fãs obcecados pelo doutor e pelo psicopata representam os entusiastas do filme. Uma reflexão intrigante, não? Pelo menos, o personagem interpretado por Brad Dourif consegue mais uma vez se destacar, sendo, sem dúvida, o melhor da obra, em uma cena que se torna, por si só, verdadeiramente memorável.
O longa-metragem apresenta dois finais, ambos transmitindo mensagens semelhantes, embora um deles inclua um momento controverso: a primeira palavra proferida por Myers em mais de 15 anos, um gesto que compromete a aura enigmática do personagem. Mas tudo já tinha sido desconstruído, né ? (lembrando que, em boa parte do filme, a Forma estava sem máscara). Em última análise, Halloween 2 é um filme inegavelmente polêmico e divisivo. São poucas as qualidades, para ser justo, que realmente funcionam de maneira satisfatória e orgânica.
Se o primeiro, lançado em 2007, já enfrentava oscilações, a sequência representa, de forma incontestável, um grande desperdício de tempo e recursos. Falha de forma isolada como um projeto do cineasta, apesar das intervenções criativas, e, sobretudo, como parte integrante da franquia Halloween. Em críticas anteriores, apontei as falhas de alguns filmes, como Halloween 6: A Última Vingança (1995) e Halloween: Ressurreição (2002), mas a sequência do prequel/remake pode ser vista, sem dúvida, como o pior exemplar de uma saga longa, virtuosa e, ao mesmo tempo, problemática, iniciada por John Carpenter.
0 Comentários