O Gabinete do Dr. Caligari (1920)
Um dos filmes mais importantes de todos os tempos.
por Giovani Zanirati
O Gabinete do Dr. Caligari (1920)
Direção: Robert Wiene
Roteiro: Hans Janowitz, Carl Meyer
País: Alemanha
Nota: 10/10
Direção: Robert Wiene
Roteiro: Hans Janowitz, Carl Meyer
País: Alemanha
Nota: 10/10
Uma verdadeira obra-prima do cinema e um dos meus filmes favoritos, O Gabinete do Dr. Caligari (1920) tem importância significativa na forma como passei a enxergar o cinema. Assim como muitas pessoas, eu sempre tive imensa dificuldade em apreciar obras mais antigas, especialmente da era do cinema mudo, e por isso, por um tempo, deixei esses trabalhos de lado. Confesso, inclusive, que, na primeira vez que assisti ao clássico Nosferatu (1922), perdi o interesse com facilidade e sequer terminei a obra. No entanto, ao "arriscar" e assistir a O Gabinete do Dr. Caligari, minha percepção mudou consideravelmente. Desde então, passei a desfrutar ainda mais dos clássicos, principalmente do expressionismo alemão, com muito mais interesse e entender a impactante relevância.
O Gabinete do Dr. Caligari é considerado um filme pioneiro em diversas estratégias narrativas e uma das principais referências do expressionismo alemão, movimento cultural de grande impacto para a indústria cinematográfica. Obras como As Mãos de Orlac (1924), Fausto (1926), Metrópolis (1927) também compartilham dessa herança. O filme é repleto de simbolismo político, suspense e terror, atuações marcantes, um aspecto estético singular e inovações notórias para a sétima arte. Inclusive, muitos especialistas consideram que o filme apresentou o primeiro plot twist do cinema, ou seja, uma grande e ambígua reviravolta na história. Algo que hoje pode parecer clichê, mas que, na época de seu lançamento, foi um choque para o público.
A trama apresenta o jovem Francis (Friedrich Fehér), que relata a um senhor o mal causado na região de Holstenwall, na Alemanha, pelo misterioso e aparentemente cruel Dr. Caligari (Werner Krauss). Durante um festival, Caligari realiza um show de hipnose com o sonâmbulo Cesare (Conrad Veidt), que está em sono profundo há 23 anos. Alegando ser capaz de controlar as ações de sua cobaia, Caligari transforma Cesare em um servo. Além disso, o sonâmbulo alega ter dons de premonição e prevê que Alan, amigo de Francis, irá morrer. Para a surpresa dos moradores da região, Alan é assassinado, assim como outras pessoas, causando grande temor na população. Francis, então, desconfia que Cesare, sob o comando do doutor, está cometendo os assassinatos, e começa uma luta para impedir os planos sinistros de Caligari.
Embora a trama possa parecer simples e clichê aos olhos de hoje, é essencial considerar o contexto da época e seu impacto revolucionário. A Alemanha estava devastada pelos efeitos da Primeira Guerra Mundial (1914-18) e pelo Tratado de Versalhes. Consequentemente, o clima de insegurança social e política durante a República de Weimar era evidente. As figuras políticas construíram uma imagem conturbada aos olhos da população, e Caligari representa essa concepção nua e cruel das autoridades que manipulam uma população alienada (representada por Cesare) para concretizar seus próprios fins, por mais prejudiciais que sejam. Essa analogia narrativa serviu de base para diversos estudos que consideram o filme, além de uma crítica ao período, uma antecipação do que seria o nazismo.
A obra também é reverenciada não apenas pelo terror e o suspense emblemático, mas pelas técnicas utilizadas, como os cenários distorcidos (casas, árvores, pontes), a fotografia, o uso expressivo da luz e da sombra, que se tornam elementos essenciais da narrativa, e a maquiagem pesada e característica, que constrói uma atmosfera pessimista, sombria e perturbadora. Esses elementos enriquecem os personagens, especialmente a dupla Caligari e Cesare. As atuações, apesar de exageradas e teatrais, como era comum no cinema mudo, elevam o potencial da obra. Tanto Krauss quanto Veidt são impecáveis em seus papéis, em uma relação cuidadosamente orquestrada pela união entre roteiro e direção de Robert Wiene.
O Gabinete do Dr. Caligari também deixou sua marca ao inovar com o uso de flashbacks, a história dentro da história e, principalmente, a reviravolta final. O desfecho é marcado por ambiguidade, o que gerou críticas à suposta perda do sentido político do filme. Inclusive, o final foi inserido pelo produtor Eric Pommer e o cineasta Wiene para desagrado dos roteiristas Hans Janowitz e Carl Meyer. Durante a busca por capturar Caligari, Francis descobre que o vilão é, na verdade, um médico respeitado de uma instituição, mas que, devido ao longo estudo sobre hipnose acabou enlouquecendo. No entanto, essa não é a grande surpresa, já que o filme reserva algo ainda mais impactante em seu último ato. Para quem se interessa, escrevi um texto detalhado sobre esse final chocante.
Com o passar dos anos, a importância de O Gabinete do Dr. Caligari se expandiu significativamente. Chocante e revolucionário, o filme pode ser considerado um dos mais importantes de todos os tempos. Transformando o cinema em uma forma de arte crítica, tornou-se referência, assim como outros clássicos do expressionismo alemão, para obras como Drácula (1931), Frankenstein (1931), Cidadão Kane (1941), e até influenciando o estilo cinematográfico de Hitchcock e Tim Burton. Por isso, O Gabinete do Dr. Caligari é um dos meus filmes favoritos e uma obra que mudou minha percepção sobre o cinema.
O Gabinete do Dr. Caligari é considerado um filme pioneiro em diversas estratégias narrativas e uma das principais referências do expressionismo alemão, movimento cultural de grande impacto para a indústria cinematográfica. Obras como As Mãos de Orlac (1924), Fausto (1926), Metrópolis (1927) também compartilham dessa herança. O filme é repleto de simbolismo político, suspense e terror, atuações marcantes, um aspecto estético singular e inovações notórias para a sétima arte. Inclusive, muitos especialistas consideram que o filme apresentou o primeiro plot twist do cinema, ou seja, uma grande e ambígua reviravolta na história. Algo que hoje pode parecer clichê, mas que, na época de seu lançamento, foi um choque para o público.
A trama apresenta o jovem Francis (Friedrich Fehér), que relata a um senhor o mal causado na região de Holstenwall, na Alemanha, pelo misterioso e aparentemente cruel Dr. Caligari (Werner Krauss). Durante um festival, Caligari realiza um show de hipnose com o sonâmbulo Cesare (Conrad Veidt), que está em sono profundo há 23 anos. Alegando ser capaz de controlar as ações de sua cobaia, Caligari transforma Cesare em um servo. Além disso, o sonâmbulo alega ter dons de premonição e prevê que Alan, amigo de Francis, irá morrer. Para a surpresa dos moradores da região, Alan é assassinado, assim como outras pessoas, causando grande temor na população. Francis, então, desconfia que Cesare, sob o comando do doutor, está cometendo os assassinatos, e começa uma luta para impedir os planos sinistros de Caligari.
Embora a trama possa parecer simples e clichê aos olhos de hoje, é essencial considerar o contexto da época e seu impacto revolucionário. A Alemanha estava devastada pelos efeitos da Primeira Guerra Mundial (1914-18) e pelo Tratado de Versalhes. Consequentemente, o clima de insegurança social e política durante a República de Weimar era evidente. As figuras políticas construíram uma imagem conturbada aos olhos da população, e Caligari representa essa concepção nua e cruel das autoridades que manipulam uma população alienada (representada por Cesare) para concretizar seus próprios fins, por mais prejudiciais que sejam. Essa analogia narrativa serviu de base para diversos estudos que consideram o filme, além de uma crítica ao período, uma antecipação do que seria o nazismo.
A obra também é reverenciada não apenas pelo terror e o suspense emblemático, mas pelas técnicas utilizadas, como os cenários distorcidos (casas, árvores, pontes), a fotografia, o uso expressivo da luz e da sombra, que se tornam elementos essenciais da narrativa, e a maquiagem pesada e característica, que constrói uma atmosfera pessimista, sombria e perturbadora. Esses elementos enriquecem os personagens, especialmente a dupla Caligari e Cesare. As atuações, apesar de exageradas e teatrais, como era comum no cinema mudo, elevam o potencial da obra. Tanto Krauss quanto Veidt são impecáveis em seus papéis, em uma relação cuidadosamente orquestrada pela união entre roteiro e direção de Robert Wiene.
O Gabinete do Dr. Caligari também deixou sua marca ao inovar com o uso de flashbacks, a história dentro da história e, principalmente, a reviravolta final. O desfecho é marcado por ambiguidade, o que gerou críticas à suposta perda do sentido político do filme. Inclusive, o final foi inserido pelo produtor Eric Pommer e o cineasta Wiene para desagrado dos roteiristas Hans Janowitz e Carl Meyer. Durante a busca por capturar Caligari, Francis descobre que o vilão é, na verdade, um médico respeitado de uma instituição, mas que, devido ao longo estudo sobre hipnose acabou enlouquecendo. No entanto, essa não é a grande surpresa, já que o filme reserva algo ainda mais impactante em seu último ato. Para quem se interessa, escrevi um texto detalhado sobre esse final chocante.
Com o passar dos anos, a importância de O Gabinete do Dr. Caligari se expandiu significativamente. Chocante e revolucionário, o filme pode ser considerado um dos mais importantes de todos os tempos. Transformando o cinema em uma forma de arte crítica, tornou-se referência, assim como outros clássicos do expressionismo alemão, para obras como Drácula (1931), Frankenstein (1931), Cidadão Kane (1941), e até influenciando o estilo cinematográfico de Hitchcock e Tim Burton. Por isso, O Gabinete do Dr. Caligari é um dos meus filmes favoritos e uma obra que mudou minha percepção sobre o cinema.
1 Comentários
Este é um clássico
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