Halloween: Ressurreição (2002)

Halloween: Ressurreição (2002)

Um show na casa de Michael Myers.


por Giovani Zanirati.


Halloween: Ressurreição (2002)
Direção: Rick Rosenthal
Roteiro: Larry Brand, Sean Hood
País: Estados Unidos
Nota: 03/10

Após o lançamento de Halloween H20: Vinte Anos Depois (1998), que entregou um desfecho digno para o confronto entre Michael Myers e Laurie Strode (Jamie Lee Curtis), parecia que a franquia finalmente havia encerrado sua história de maneira satisfatória. No entanto, devido ao grande sucesso de crítica e bilheteria – sendo considerada a melhor sequência da série até então –, Moustapha Akkad optou por continuar a saga. Assim nasceu Halloween: Ressurreição (2002), que não apenas trouxe Myers de volta, mas também buscou explorar novos rumos para a franquia. A grande questão era: como explicar o retorno do assassino mascarado após a sua aparente decapitação em H20?

Para justificar a sobrevivência de Myers, Ressurreição revela que Laurie Strode, na verdade, matou um paramédico inocente no final de H20. Segundo a explicação apresentada, Michael teria atacado o homem, trocado de roupa com ele e escapado ileso. Essa reviravolta, embora "resolva" a continuidade da franquia, compromete parte do impacto emocional e narrativo do filme anterior.

Outro obstáculo era a relutância de Jamie Lee Curtis em retornar ao papel de Laurie Strode. A atriz havia participado de Halloween 2: O Pesadelo Continua (1981) como forma de agradecer a John Carpenter e Debra Hill, mas se manteve ausente das três sequências seguintes. Em H20, Curtis concordou em retornar para comemorar os 20 anos do original e encerrar a trajetória de Laurie. Contudo, questões contratuais a obrigaram a participar de Ressurreição. Originalmente, seu papel seria uma pequena ponta de 30 segundos, mas os produtores ampliaram sua participação em troca de incentivos financeiros - no qual, de acordo com o roteirista, ela doou para instituições.

Curtis aceitou sob a condição de que Laurie tivesse um fim definitivo. Logo no início do filme, Laurie está internada em um sanatório, devido a trágica morte do paramédico. Porém, tudo fazia parte de um plano para confrontar Michael Myers. O vilão aparece para cumprir com seu macabro objetivo, mas é preso em uma emboscada. Contudo, temendo mais uma vez assassinar um inocente, ela comete um erro e acaba morta por Myers, encerrando sua trajetória de forma trágica e polêmica. Essa morte abrupta divide opiniões e marca a primeira metade do filme como o desfecho do embate entre os irmãos.

Na segunda metade do filme, a narrativa muda completamente. Um empresário inescrupuloso chamado Freddie Harris (Busta Rhymes) organiza um reality show na antiga casa de Michael Myers, transmitido ao vivo pela internet. Jovens universitários, com destaque para a nova final girl Donna (Daisy McCrackin) são recrutados para explorar o local durante o feriado de Halloween, mas, como era de se esperar, acabam se tornando vítimas do assassino mascarado.

Embora a ideia pareça clichê, havia potencial para explorar temas relevantes, como a glamourização da violência e a alienação do público online. O roteirista chegou a se inspirar na famosa transmissão de Guerra dos Mundos (1938), de Orson Welles, para criar uma inversão narrativa: enquanto Welles confundiu o público ao transformar ficção em realidade, o reality show de Ressurreição busca confundir realidade com ficção. Os ataques de Myers, transmitidos ao vivo, são inicialmente percebidos como parte do espetáculo.

Infelizmente, a execução ficou aquém do esperado. A interferência dos produtores resultou em diálogos rasos e na priorização de elementos genéricos do gênero, ofuscando qualquer tentativa de crítica social ou metalinguagem. Os personagens são mal desenvolvidos, sendo considerados os mais fracos de toda a franquia. Mesmo a ideia de subverter clichês – como trocar a final girl ao longo da história – foi descartada, mantendo a narrativa previsível.

Com a ausência de personagens centrais como Loomis (Donald Pleasence) , Laurie e Jamie Lloyd (Danielle Harris), Myers se torna o único elemento interessante do filme. Contudo, até ele sofre com escolhas narrativas questionáveis. Um exemplo é a bizarra cena em que Freddie Harris luta contra Myers utilizando golpes de kung fu – um momento que muitos fãs consideram constrangedor e desrespeitoso à essência do vilão.

Além disso, o enredo dedica tempo excessivo a um grupo de jovens que assiste ao reality show durante uma festa de Halloween. Um dos personagens, amigo de Donna, tenta ajudar a protagonista remotamente por meio de um computador, enquanto a polícia só age quando tudo já está perdido. A falta de urgência e realismo torna a narrativa ainda mais desconexa.

Halloween: Ressurreição poderia ter sido uma obra inovadora dentro do universo da franquia. No entanto, a abordagem apressada e mal estruturada prejudicou qualquer chance de sucesso. Talvez, se a premissa fosse desenvolvida como uma história independente, sem o peso de ser uma sequência de Halloween, o resultado poderia ter sido mais positivo.

Embora tenha tentado apresentar críticas sociais e um uso diferenciado de metalinguagem, o filme falha em praticamente todos os aspectos, entregando um produto desinteressante e repleto de decisões criativas duvidosas. Para muitos fãs, a obra representa o ponto mais baixo da franquia, um contraste gritante com o legado do clássico de 1978.

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