O Poço 2 (2024)
O sucesso tem seu preço: A análise de O Poço 2.
por Giovani Zanirati
O Poço 2 (2024)
Direção: Galder Gaztelu-Urrutia
Roteiro: David Desola, Galder Gaztelu-Urrutia, Egoitz Moreno, Pedro Rivero
País: Espanha
Nota: 05/10
Na indústria cinematográfica, o sucesso de um filme frequentemente resulta na criação de sequências, mesmo quando essa decisão não se justifica artisticamente. O Poço (2019), aclamado sucesso espanhol, conquistou tanto críticos quanto cinéfilos com sua trama envolvente, que mesclou uma crítica incisiva ao capitalismo e à desigualdade com elementos de drama e violência. Contudo, a narrativa se perde no final, ao apresentar um mistério envolvendo uma criança perdida na prisão vertical.
Com o lançamento de O Poço 2, as expectativas em relação a esse mistério e outros elementos da história, como a origem e o propósito da prisão, aumentaram consideravelmente. Entretanto, o que se observa no novo filme é uma repetição menos inspirada do antecessor, repleto de críticas sociais vazias, um aumento da violência explícita e novas perguntas que, infelizmente, permanecem sem resposta.
Na trama, o presídio despótico apresenta uma plataforma que, uma vez por dia, desce do primeiro andar até o nível 333, trazendo uma mesa repleta de comida para os prisioneiros. Em cada andar, cada um deve se alimentar dentro do tempo limitado até a plataforma permanecer, sem poder conservar sobras, sob pena de punições severas.
No primeiro filme, as regras eram inexistentes, permitindo que os prisioneiros se alimentassem à vontade, resultando em escassez e privação nos níveis inferiores, resultando em um mês mórbido sem nenhum recurso. Lembrando que, conforme exposto na obra, os prisioneiros permanecem em um nível por um mês, sendo redistribuídos aleatoriamente.
Em O Poço 2, no entanto, regras rigorosas limitam a alimentação a apenas o que é destinado a cada prisioneiro, aumentando as chances de que mais pessoas consigam se alimentar. Uma lei proposta pela Revolução Solidária. O canibalismo, comum nos níveis mais baixos, é proibido. Mas a distribuição de alimentos, que parece justa, é acompanhada de um problema. Todos aqueles que infringem as regras, como se alimentar da comida de outra pessoa, são severamente punidos com a mutilação e/ou a morte.
O novo filme, além de abordar as desigualdades sociais, também critica explicitamente o fanatismo religioso, revelando como uma figura messiânica pode doutrinar seguidores de maneira perturbadora. Qual é o sentido da violência em uma suposta luta pela igualdade? Causar a morte hoje para evitar a morte amanhã? Quem detém o controle sobre os que realizam investigação, julgamento e punição?
Diante desse cenário bizarro, que resulta na morte de um companheiro de cela, a personagem Perempuán (Milena Smit) inicia diversas lutas, tanto contra os Bárbaros (aqueles que violam as leis) quanto contra os que aplicam as leis na teoria (Os Leais) e as punições (Ungidos). Além disso, ao longo do filme, a narrativa se desenvolve por meio de flashbacks, mostrando a trajetória da protagonista na entrevista com a administração do presídio.
O Poço 2 é um filme que busca, a todo momento, construir um clima de suspense e complexidade, repleto de mensagens subliminares. O aumento da violência e do gore, com cenas de mutilação e confrontos, cria uma atmosfera de confusão que torna difícil compreender o que realmente está acontecendo, gerando a expectativa de que a trama chegue ao fim rapidamente para que se saiba quem sobrevive.
Embora uma nova gama de personagens seja introduzida, essa confusão narrativa não resulta em uma história significativa e coesa. O desfecho do filme, mais uma vez, abre espaço para interpretações que, em vez de esclarecer, apenas criam novas questões. O significado das crianças? O fundo do poço? Em última análise, O Poço 2 pode ser interpretado como uma reflexão sobre os extremos da fé e da violência, mas falha em oferecer um desenvolvimento narrativo que sustente suas ambições, inclusive em conexão com o primeiro filme. As críticas ao extremismo religioso, embora pertinentes, são apresentadas de maneira superficial, comprometendo o impacto geral da obra.
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