Maníaco do Parque (2024)
Um filme sobre reparação histórica.
por Giovani Zanirati.
Maníaco do Parque (2024)
Direção: Maurício Eça
Roteiro: L. G. Bayão
País: Brasil
Nota: 06/10
Direção: Maurício Eça
Roteiro: L. G. Bayão
País: Brasil
Nota: 06/10
O true crime é, sem dúvida, um dos gêneros mais complexos e controversos no audiovisual, devido à sensibilidade dos casos retratados, que despertam curiosidade e fomentam intensos debates. Trabalhar com histórias reais que abalam as estruturas sociais e deixam cicatrizes profundas exige extremo cuidado para evitar sensacionalismo, glamourização da violência e do assassino ou desrespeito às vítimas e seus familiares. Um exemplo emblemático é a série Dahmer, da Netflix, que aborda a trajetória do psicopata Jeffrey Dahmer. A produção foi duramente criticada por familiares das vítimas, que acusaram a plataforma de romantizar o psicopata, gerando indignação.
Embora cineastas e produtores não tenham a intenção de glorificar criminosos, muitas vezes esse pode ser um efeito involuntário. Defensores da abordagem argumentam que esses conteúdos podem cumprir um papel reparador, ao denunciar falhas nas investigações policiais, destacar a responsabilidade da mídia e expor a ausência de políticas públicas eficientes. No entanto, quando a figura do assassino ocupa o centro das atenções, é essencial que a narrativa deixe claro o caráter patológico e maligno desses indivíduos, para evitar interpretações ambíguas ou nocivas.
O caso de Francisco de Assis Pereira, conhecido como o Maníaco do Parque, apresenta semelhanças inquietantes com o de Dahmer: um criminoso manipulador, vítimas enganadas, investigações ineficazes e vozes silenciadas. Além disso, ambos os casos evidenciam falhas sociais e estatais que poderiam ter evitado inúmeras mortes. A jornalista investigativa Thaís Nunes, que desde 2021, pesquisa o caso, foi essencial para o desenvolvimento do filme e do documentário Maníaco do Parque: A História não Contada, ambos disponíveis no Prime Video.
O caso de Francisco de Assis Pereira, conhecido como o Maníaco do Parque, apresenta semelhanças inquietantes com o de Dahmer: um criminoso manipulador, vítimas enganadas, investigações ineficazes e vozes silenciadas. Além disso, ambos os casos evidenciam falhas sociais e estatais que poderiam ter evitado inúmeras mortes. A jornalista investigativa Thaís Nunes, que desde 2021, pesquisa o caso, foi essencial para o desenvolvimento do filme e do documentário Maníaco do Parque: A História não Contada, ambos disponíveis no Prime Video.
Seu trabalho revela preconceitos e descasos da sociedade e do sistema judiciário, que chegou a questionar absurdamente as vítimas sobreviventes com perguntas como: "Que roupa você estava usando?". Thaís destaca ainda o papel da mídia na construção da imagem do criminoso. Após sua prisão, Francisco foi entrevistado por quase uma hora em rede nacional, recebendo uma atenção que em nada refletia a gravidade de seus crimes. Ele, que assassinou sete mulheres e abusou de outras tantas, parecia uma celebridade macabra em um país ainda marcado por sombras. E quanto às vítimas? Onde estavam suas vozes? Qual foi o papel do Estado e da sociedade? Para quem viveu os anos 1990, essas perguntas ecoam dolorosamente.
O filme inspirado no caso adota uma abordagem cautelosa. Diferente das produções que exploram o criminoso como foco principal, a narrativa centra-se na figura de Elena (Giovanna Grigio), uma jovem jornalista que enfrenta um ambiente sexista no jornal Notícias Populares. Interpretado por Silvero Pereira, Francisco é apresentado de forma enigmática: um motoboy talentoso e aparentemente comum, que esconde um lado sombrio ao se passar por fotógrafo para atrair suas vítimas.
O filme inspirado no caso adota uma abordagem cautelosa. Diferente das produções que exploram o criminoso como foco principal, a narrativa centra-se na figura de Elena (Giovanna Grigio), uma jovem jornalista que enfrenta um ambiente sexista no jornal Notícias Populares. Interpretado por Silvero Pereira, Francisco é apresentado de forma enigmática: um motoboy talentoso e aparentemente comum, que esconde um lado sombrio ao se passar por fotógrafo para atrair suas vítimas.
A trama intercala sua rotina comum com a investigação de Elena, que inicialmente busca destaque profissional, mas aos poucos transforma sua missão em uma luta por justiça. Durante sua apuração, Elena enfrenta a negligência policial, que se recusa a realizar testes de DNA em todas as vítimas por "falta de recursos", e a indiferença dos colegas, que parecem mais interessados no aumento das vendas do jornal do que na gravidade dos crimes. A frase do editor-chefe — “O que vamos vender se o Maníaco for preso?” — expõe o caráter exploratório da mídia sensacionalista da época.
A produção combina fatos reais e ficção, mas pode frustrar quem esperava um estudo de personagem mais aprofundado do criminoso. Em vez disso, a obra enfatiza a crítica social e o impacto da violência sistêmica contra as mulheres. Em um dos momentos mais marcantes, depoimentos de vítimas sobreviventes revelam sentimentos de culpa, medo da impunidade e a dolorosa constatação de que esses horrores podem acontecer com qualquer mulher.
A produção combina fatos reais e ficção, mas pode frustrar quem esperava um estudo de personagem mais aprofundado do criminoso. Em vez disso, a obra enfatiza a crítica social e o impacto da violência sistêmica contra as mulheres. Em um dos momentos mais marcantes, depoimentos de vítimas sobreviventes revelam sentimentos de culpa, medo da impunidade e a dolorosa constatação de que esses horrores podem acontecer com qualquer mulher.
Por mais clichê que algumas passagens possam parecer, a transformação de Elena é convincente. O filme mostra como sua busca inicial por reconhecimento pessoal se converte em um esforço genuíno por justiça. Enquanto isso, Francisco, mesmo escondendo suas atrocidades, é bem-sucedido em manipular seu entorno — até seu próprio patrão coloca a família em risco ao confiar nele cegamente.
O longa, dirigido por Maurício Eça e roteirizado por L.G. Bayão, apresenta um esforço significativo para evitar a romantização do assassino e trazer uma perspectiva feminista à narrativa. No entanto, ao centralizar a história na personagem de Elena, perde parte do impacto emocional que poderia ter alcançado. A crítica à imprensa tradicional também é abordada de forma superficial, apesar de seu papel determinante na exploração sensacionalista do caso.
O longa, dirigido por Maurício Eça e roteirizado por L.G. Bayão, apresenta um esforço significativo para evitar a romantização do assassino e trazer uma perspectiva feminista à narrativa. No entanto, ao centralizar a história na personagem de Elena, perde parte do impacto emocional que poderia ter alcançado. A crítica à imprensa tradicional também é abordada de forma superficial, apesar de seu papel determinante na exploração sensacionalista do caso.
Embora muitos espectadores tenham expressado insatisfação por esperar uma abordagem mais voltada para o terror psicológico ou um aprofundamento maior na figura de Francisco, o filme cumpre bem sua proposta. Ele oferece uma boa ambientação da época e discute temas relevantes, como misoginia, violência de gênero e falhas institucionais, embora com algumas limitações.
No geral, a obra deixa a sensação de um potencial parcialmente desperdiçado, mas ainda assim relevante. Não é apenas uma história de crimes brutais, mas um alerta sobre os perigos de uma sociedade que continua a falhar em proteger suas cidadãs e a alimentar ciclos de violência. Produções de true crime como essa não devem ser encaradas apenas como entretenimento, mas como oportunidade para reflexão e transformação social. Ao evitar a glamourização do criminoso e dar voz às vítimas, o filme sobre o Maníaco do Parque reforçam a importância de se aprender com o passado.
No geral, a obra deixa a sensação de um potencial parcialmente desperdiçado, mas ainda assim relevante. Não é apenas uma história de crimes brutais, mas um alerta sobre os perigos de uma sociedade que continua a falhar em proteger suas cidadãs e a alimentar ciclos de violência. Produções de true crime como essa não devem ser encaradas apenas como entretenimento, mas como oportunidade para reflexão e transformação social. Ao evitar a glamourização do criminoso e dar voz às vítimas, o filme sobre o Maníaco do Parque reforçam a importância de se aprender com o passado.
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