Halloween 6 – A Última Vingança (1995)

Halloween 6 – A Última Vingança (1995)

Um capítulo confuso que quase sepultou a franquia.

por Giovani Zanirati.


Halloween 6 – A Última Vingança (1995)
Direção: Joe Chappelle
Roteiro: Daniel Farrands
País: Estados Unidos
Nota: 2,5/10

Após o fracasso crítico e comercial de Halloween 5: A Vingança de Michael Myers (1989), Moustapha Akkad, executivo responsável pela série, decidiu dar uma pausa na franquia para evitar os mesmos erros no próximo filme. Além de perder temporariamente os direitos da trama, Akkad se viu em uma disputa acirrada (um leilão) com o próprio John Carpenter para readquirir os direitos da marca. Carpenter, que já havia vendido sua parte entre 1987 e 1988, chegou a propor uma ideia inusitada: mandar Michael Myers para o espaço — um conceito que mais tarde se tornaria piada. Curiosamente, em 2001, a franquia Jason abraçaria essa loucura em Jason X.

O desenvolvimento de Halloween 6: A Última Vingança (1995) foi marcado por controvérsias e mudanças constantes. Quentin Tarantino chegou a ser cotado como roteirista antes da trama cair nas mãos de Daniel Farrands, com Joe Chapelle na direção. O desafio era claro: trazer Michael Myers de volta e resolver as pontas soltas deixadas pelo filme anterior. No entanto, a interferência dos produtores causou várias mudanças durante a produção. A primeira versão do filme foi rejeitada pelo público-teste, forçando novas filmagens em tempo recorde para o lançamento em outubro de 1995.

Halloween 6 tenta acertar em alguns aspectos, mas acaba sendo um filme caótico e picotado, oferecendo uma experiência frustrante para o espectador. Hoje, é amplamente lembrado como um dos piores capítulos da franquia. Parte da culpa recai sobre o roteiro do filme anterior, que deixou ganchos absurdos e difíceis de resolver. O conceito original de Myers como “o mal encarnado”, estabelecido por Carpenter, foi distorcido ao longo dos filmes. Em Halloween 6, ele é reimaginado como um peão involuntário de uma seita druida, cuja missão envolve perpetuar um ciclo de maldição através de sacrifícios familiares. Esse enredo bizarro introduz uma ligação com o enigmático “Homem de Preto”, personagem que apareceu sem explicação em Halloween 5.

A confusão aumenta com a introdução de novos personagens e a reinserção de antigos. Danny (Devin Gardner), filho de Kara Strode (Marianne Hagan), que começa a ouvir vozes semelhantes às que Michael escutava na infância. Além disso, o bebê de Jamie Lloyd (J.C Brandy), assassinada tragicamente, torna-se alvo da seita liderada pelo Homem de Preto (Mitchekk Ryan). Qual o verdadeiro papel de Michael Myers nesta trama? Quem é o pai do bebê de Jamie Lloyd? Qual é a relevância do Dr. Loomis ( Donald Pleasence) no desfecho? O pior é o que ocorre com duas figuras emblemáticas de Halloween. Jamie, uma das personagens mais trágicas da franquia, é completamente desperdiçada. Após perder os pais biológicos em um acidente, ser perseguida pelo tio assassino, torturada por Loomis e sequestrada pela seita, seu arco se encerra de forma banal e sem respeito pelo que ela representa. Loomis, por sua vez, tem uma participação reduzida devido à morte do ator Donald Pleasence durante as gravações, deixando seu papel ainda mais prejudicado.

O personagem Tommy Doyle, interpretado por um jovem Paul Rudd, é um dos poucos pontos positivos do filme. Sobrevivente do ataque de Michael Myers no primeiro Halloween, Tommy tornou-se obcecado pelo assassino e busca respostas para o mistério por trás dele. Embora suas descobertas sejam mal desenvolvidas, Doyle se destaca como um dos poucos personagens masculinos relevantes em uma franquia marcada por estereótipos. Kara Strode também foge do arquétipo de adolescente comum, mas seu desenvolvimento é superficial.

A versão do produtor, diferente da exibida nos cinemas, oferece mais detalhes sobre a seita e o envolvimento de Danny e do bebê de Jamie. Na trama original, Danny seria moldado para se tornar o “novo Michael Myers” e teria de sacrificar sua família para cumprir a maldição. Michael, por sua vez, precisaria eliminar seu último alvo: o bebê de sua sobrinha. Embora a versão cinematográfica não esclareça quem é o pai do bebê, a versão rejeitada sugere que Michael Myers seria o próprio pai — uma revelação perturbadora que levanta questões sobre abuso e incesto. Essa ideia sombria adiciona uma camada de horror psicológico, mas também afasta o público ao violar os limites do bom senso.

Os finais são diferentes. Na versão cinematográfica, ocorre aquilo que é mais comum, a clássica e extensa perseguição de Michael Myers, com dezenas de mortes e uma cena que remete ao filme de Carpenter. Na ideia original, o filme revela um segredo mal desenvolvido sobre maldição, envolvendo Myers, o Homem de Preto e Loomis. Apesar da intenção de criar uma sequência, Halloween 6 colocou a franquia no fundo do poço. A complexidade mal resolvida da trama e a inserção do sobrenatural deixaram a história irreparável. Diante disso, um reboot tornou-se inevitável para salvar a série. Em 1998, Halloween H20 celebrou os 20 anos do primeiro filme, ignorando os eventos de Halloween 4, 5 e 6. A nova linha do tempo se concentrou na rivalidade entre Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) e Michael Myers, apagando da história a seita druida e o arco de Jamie Lloyd.

Halloween 6: A Última Vingança é um exemplo clássico de como a interferência excessiva e um roteiro inconsistente podem arruinar uma franquia promissora. Embora tenha momentos de suspense e tentativas de explorar novas direções, o filme se perde na execução. A produção caótica e a falta de coesão narrativa fizeram deste capítulo um dos pontos mais baixos da saga. O reboot com Halloween H20 marcou o início de uma nova era, tentando apagar os erros do passado e devolver a franquia às suas raízes.

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