Halloween 5 – A Vingança de Michael Myers (1989)

Halloween 5 – A Vingança de Michael Myers (1989)

O começo do fim.

por Giovani Zanirati.



Halloween 5 – A Vingança de Michael Myers (1989)
Direção: Dominique Othenin-Girard
Roteiro: Michael Jacobs, Shem Bitterman, Dominique Othenin-Girard
País: Estados Unidos
Nota: 3,5/10

O filme Halloween 4: O Retorno de Michael Myers (1988) foi um sucesso de bilheteria. Apesar de enfrentar os clichês típicos do gênero, conseguiu apresentar uma narrativa envolvente e, acima de tudo, um desfecho quase perfeito para toda a franquia. No entanto, a ambição de expandir a saga levou o produtor Moustapha Akkad a imaginar uma nova sequência. Assim nasceu Halloween 5: A Vingança de Michael Myers (1989), cuja primeira ideia de roteiro, escrita por Shem Bitterman, carregava o título O Assassino Dentro de Mim. Esta versão focava na jovem Jamie Lloyd (Danielle Harris), sobrinha de Michael Myers.

No final de Halloween 4, Jamie Lloyd, vestida com uma fantasia de palhaço similar à usada por Michael na infância, esfaqueia a mãe adotiva com uma tesoura, em um perturbador déjà vu. Ao presenciar a cena, o Dr. Loomis (Donald Pleasence), temendo que o ciclo do mal se repetisse através da menina, tenta matá-la. Essa premissa prometia uma abordagem ousada, com Jamie como a nova assassina.

Porém, o cineasta Dominique Othenin-Girard, recomendado por Debra Hill, descartou a ideia de transformar Jamie em vilã. Novos conceitos surgiram, incluindo um esboço em que Michael Myers, à la Frankenstein, seria ressuscitado por um raio e se tornaria um monstro incompreendido. A versão final, escrita por Michael Jacobs, trouxe de volta o icônico vilão, mas não soube aproveitar o potencial do filme anterior.

Um dos pontos mais criticados de Halloween 5 é seu início. Após ser alvejado pela polícia, Michael encontra refúgio em uma caverna, abrigado por um eremita que vive com um papagaio. O assassino permanece desacordado por um ano, despertando apenas na véspera de Halloween, quando mata o homem que o acolheu. Curiosamente, a primeira versão envolvia um personagem chamado Dr. Morte, que teria curado Michael usando práticas ocultistas. A cena foi gravada, mas cortada na edição final, eliminando uma explicação para a sobrevivência de Myers e resultando em uma sequência inicial sem sentido.

Após retornar à sua cidade natal, Michael Myers descobre que sua sobrinha Jamie está internada em um sanatório, traumatizada e incapaz de falar. Ao contrário do que se imaginava, sua mãe adotiva sobreviveu ao ataque do filme anterior, e Jamie não havia absorvido a maldade do tio. Assim, ela volta ao papel de vítima, enquanto o Dr. Loomis a manipula obsessivamente para descobrir o paradeiro de Myers.

Enquanto isso, o filme surpreende ao reduzir drasticamente o papel de Rachel (Ellie Cornel), protagonista do filme anterior. Em uma virada ao estilo Psicose (1960), a narrativa transfere o protagonismo para Tina (Wendy Kaplan), a nova final girl. Segundo Othenin-Girard, a escolha foi intencional para subverter o arquétipo de Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) e Rachel, apresentando uma heroína com características distintas. No entanto, essa mudança não foi bem recebida pelos fãs, e Tina não conseguiu conquistar o público.

Um dos elementos mais trabalhados ao longo da franquia é a obsessão de Michael por membros de sua família, porém o enredo desta vez desvia seu foco para Tina, tornando a motivação do vilão confusa. A tentativa de inovar acaba por misturar elementos do clássico de John Carpenter com uma nova narrativa que não se sustenta. Jamie, que deveria ser o centro da trama, acaba relegada a um papel secundário.

Apesar dos problemas, Halloween 5 consegue manter a tensão no confronto entre Michael Myers e o Dr. Loomis. Donald Pleasence entrega uma atuação memorável, aprofundando as nuances sombrias do personagem. O médico, antes racional e sereno, torna-se uma figura amargurada e obcecada, revelando um lado moralmente ambíguo. A transformação de Loomis suscita reflexões: ele se tornou uma pessoa má, ou foi consumido pelo trauma de anos perseguindo Myers?

Curiosamente, o filme também humaniza Michael, mostrando-o em um momento de fragilidade. Em uma cena inesperada, o assassino chega a derramar lágrimas, oferecendo ao público um vislumbre de sua humanidade. Outro mistério introduzido é o Homem de Preto, uma figura sombria que surge ao longo do filme sem explicação. A adição desse personagem foi uma exigência de Akkad durante as gravações, mas nem os roteiristas sabiam ao certo qual seria seu propósito. Essa falta de clareza contribui para a sensação de desorganização narrativa.

Halloween 5: A Vingança de Michael Myers tentou inovar, mas sua trama confusa e a execução inconsistente resultaram em um filme que dividiu opiniões e prejudicou a continuidade da franquia. Embora conte com boas cenas de perseguição e uma direção competente, os erros de roteiro e montagem comprometem a obra. A decadência iniciada em Halloween 5 seria aprofundada com Halloween 6: A Última Vingança (1995), um filme que não apenas fracassou em corrigir os erros anteriores, mas também encerrou definitivamente a primeira linha do tempo da saga.

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