Sentença de Morte (2018)

Sentença de Morte (2018)

A Jornada de Thanos

por Giovani Zanirati



Sentença de Morte (2018)
Autor: Stuart Moore
País: Estados Unidos
Editora: Novo Século
Páginas: 320
Nota: 08/10

Em 1973, na edição n.º 55 do Invencível Homem de Ferro, Thanos, criação de Jim Starlin, fez sua primeira aparição nos quadrinhos da Marvel. Com o passar dos anos, o Titã Louco se tornou um dos maiores e mais intrigantes vilões das HQs, conquistando uma legião de fãs. Ele foi responsável por antagonizar a épica trilogia do Infinito, que serviu de base para Vingadores: Guerra Infinita (2018). Na narrativa de Starlin, fundamental para compreender o conceito filosófico do livro, Thanos conquista as Joias do Infinito e inicia um plano de exterminar vidas como oferenda à sua grande paixão, A Morte.

É possível estabelecer paralelos entre a representação de Thanos nas HQs e nos filmes. Na obra dos Irmãos Russo, Thanos levanta uma bandeira social com uma visão de justiça distorcida e fascista, defendendo que metade da população do universo deve ser eliminada para garantir a manutenção dos recursos. Para ele, é mais fácil praticar genocídio do que dividir esses recursos de forma justa. Nos quadrinhos, no entanto, Thanos se apresenta como o vilão maniqueísta clássico, movido por um amor incontrolável e não correspondido pela Morte.

Esse amor é o ponto de partida do presente livro: de maneira avassaladora, como nunca antes visto em uma história da Marvel, Thanos está em posse de todas as Joias do Infinito e inicia uma verdadeira carnificina contra os heróis da Terra. Em questão de minutos, Thor e Capitão América são mortos pelo poder do monstro. A cada momento, o poder de Thanos se expande, aumentando seu tamanho e consciência cósmica. A Terra e o universo parecem brinquedos nas mãos de uma criança enfurecida. A Morte, no entanto, segue ignorando-o, mesmo diante de bilhões de mortos.

Como última cartada, Homem de Ferro, Senhor Fantástico, Dr. Estranho e Feiticeira Escarlate libertam Kronos, o avô de Thanos, na tentativa de derrotá-lo. Após uma batalha mortal e de proporções inimagináveis, Kronos subjuga a Manopla do Infinito e derrota Thanos, usando as Joias para reverter tudo o que fora eliminado. Thanos é derrotado novamente e, mais uma vez, fracassa com A Morte. Embora os parágrafos escritos possam soar como spoilers definitivos da trama, não se preocupe, caro leitor. A verdadeira história do livro começa a partir do segundo arco.

Após seu mais recente fracasso, A Morte utiliza a imagem da mãe de Thanos para lhe oferecer mais uma chance — a última. Contudo, o vilão precisa abrir mão de tudo: seu poder cósmico, corpo, passado e exército. Thanos deve assumir uma nova forma, percorrer diferentes mundos e enfrentar novos obstáculos, mas mantendo sua essência: obter poder e conquistar A Morte. Afinal, ele continua sendo Thanos.

A obra de Stuart Moore é dividida em quatro arcos independentes, sendo o primeiro já apresentado. Os três seguintes contextualizam uma versão única de um dos maiores vilões da Marvel, com características que evocam tanto as HQs quanto os filmes. Trata-se de uma jornada de auto descoberta em realidades e dificuldades distintas, onde novas camadas são adicionadas ao vilão, que, desprovido de seus poderes, precisa recorrer a novas estratégias para retomar o controle. Durante essa jornada, também conhecemos um lado diferente de Thanos: ao se colocar ao lado dos oprimidos e da fragilidade, ele vai construindo relações amistosas e até amorosas.

No segundo arco, quando Thanos assume o corpo do escravo Nil em Sacrossanto, ele se une às irmãs Felina e Avia para enfrentar a poderosa Igreja Universal da Verdade, criada por Magus, a segunda personalidade de Adam Warlock. Curiosamente, o personagem figura do lado oposto à sua natureza; ao invés de dominar, ele é dominado, espancado e humilhado. Aqui, vemos uma figura fragilizada que adquire amigos e engana antigos subordinados para superar o poder da igreja, com participações de personagens conhecidos como Próxima Meia-Noite e Fauce de Ébano.

Na terceira parte, em Hala, ele assume o corpo do soldado Kree, o capitão Teren-Sas, da 18.ª Divisão Estelar, e inicia uma revolta contra o Império, desafiando a própria Inteligência Suprema. Neste contexto, Thanos utiliza seu lado político e, através de carisma e eloquência, levanta uma rebelião em uma batalha pela conquista do planetoide Hemithea, cuja ocupação o Império Kree havia adiado por longos ciclos. Com o mais perigoso exército do universo sob seu comando, o vilão finalmente pode preparar sua épica oferenda à sua amada.

Por fim, no último arco, ocorre o momento mais complexo e emblemático: em uma reviravolta impactante, o monstro vive em uma realidade supostamente artificial, onde forma uma família. Thanos finalmente encontrará a paz? Ao conviver na simplicidade com os moradores da região, plantando e colhendo alimentos em uma casa simples, e construindo uma família, um amor e filhos, ele trilha um caminho improvável para um genocida. Essa paz será mantida? E a Morte?

O trabalho de Stuart Moore se afasta do habitual, pois, embora apresente momentos de ação e tensão, se desdobra mais em questões emocionais e filosóficas sobre a jornada de Thanos e sua obsessão por A Morte. Diversas perguntas surgem, e as respostas não são facilmente obtidas. Esses elementos podem, portanto, incomodar leitores que chegaram ao livro após acompanhar os filmes dos Irmãos Russo. Com 320 páginas, Sentença de Morte é uma obra divertida, envolvente e emblemática, que certamente enriquece a imagem do vilão e do universo Marvel.

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