Armadilha em Alto Mar (2024)

Armadilha em Alto Mar (2024)

Sem poder de convencimento.

por Giovani Zanirati


Armadilha em Alto Mar (2024)
Direção: Phil Volken
Roteiro: Phil Volken
País: Canadá/Estados Unidos
Nota: 03/10

É, por vezes, inexplicável como certas obras figuram no Top 10 da Netflix. O argumento de que se trata de uma novidade não é suficiente para me convencer, pois ainda acredito na força do boca a boca para atrair ou afastar o público de determinados filmes. Contudo, de alguma forma, produções de qualidade duvidosa, especialmente no gênero de terror, vêm chamando a atenção dos assinantes da plataforma. Recentemente, A Libertação (2024) que mescla drama e horror, ocupou essa lista, mas pouco agradou tanto à crítica quanto aos fãs do gênero. Poder-se-ia alegar que o fato de ser inspirado em eventos reais justifica sua presença.

E quanto a Armadilha em Alta Mar? Qual é a sua atratividade? Na trama, a jovem Kaya (Isabel Gravitt) e três amigos decidem embarcar em uma típica aventura de classe média excêntrica. Durante um passeio de jetski, um acidente ocorre: um dos jovens morre e dois ficam gravemente feridos. Perdidos no mar, com os jetskis destruídos e cercados por um tubarão, parecia que o trio chegaria ao fim. Contudo, rapidamente e de forma surpreendente, um homem em um barco aparece para salvá-los. O que parecia sorte se revela, na verdade, o início de um novo pesadelo.

Embora busque unir suspense, terror e crítica social, o filme falha em sua proposta em grande parte da narrativa, resultando em previsibilidade e clichês do gênero. Desde o início, as más intenções de Rey (Alexandre Wraith), o proprietário do barco, são evidentes. Seus olhares, falas e gestos indicam que os jovens se tornarão vítimas de uma ação cruel. Assim, a luta pela sobrevivência muda de foco: antes, no mar, eles buscavam um resgate; agora, após o ocorrido, a luta é para escapar do barco, intensificando o clima claustrofóbico e perturbador da obra.

Com a introdução de um novo personagem, a proposta do filme finalmente ganha sentido. Se antes as ações de Rey pareciam próprias de um homem isolado e perturbado, passam a refletir uma crítica social ao comércio de órgãos, gerando um grande desconforto. A ideia de eliminar vidas "descartáveis" para salvar os poderosos marca um discurso pesado, evidenciando como alguns criminosos tratam a vida humana como um mero objeto de comércio.

Entretanto, conforme mencionado, o filme não consegue efetivamente sustentar sua proposta. Ao se levar a sério, faltam diversos elementos para enriquecer a narrativa. Tanto a direção quanto as atuações são modestas, criando uma atmosfera de superficialidade, como se fosse apenas um filme de terror, onde a violência gratuita é sua única característica marcante. Com uma duração relativamente curta, inferior a uma hora e meia, a trama se desenrola de forma apressada, deixando a expectativa apenas pela resolução e punição dos criminosos. Naturalmente, em um enredo de sobrevivência, as vítimas precisam passar por transformações profundas; portanto, uma contextualização adequada dos personagens seria benéfica para gerar conexão com o espectador.

A ambientação, filmada nas Bahamas, é possivelmente o aspecto mais interessante, assim como o ambiente sujo e claustrofóbico do barco de Rey. Contudo, o trabalho de Phil Volken funciona apenas de forma razoável como uma trama de suspense e horror e, acima de tudo, como uma denúncia de algo problemático e grave, como o comércio desenfreado de órgãos. Não é ofensivo, mas não entendo como um bom filme.

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