Misery Louca Obsessão (1987)

Misery Louca Obsessão (1987)


por Giovani Zanirati



Misery Louca Obsessão (1987)
Autor: Stephen King
País: Estados Unidos
Editora (Brasil): Objetiva ( Suma de Letras)
Páginas: 328
Nota: 09/10

Paul Sheldon, um renomado escritor conhecido pela famosa franquia Misery, sofre um grave acidente de carro que resulta em fraturas nas pernas e diversas outras lesões. Por ironia do destino, ele é socorrido por Annie Wilkes, sua fã mais ardente. Embora o socorro tenha sido providencial, especialmente devido ao isolamento da área e ao intenso frio que ameaçavam sua vida, a aparente salvação logo se revela o início de um novo pesadelo.

Sheldon logo percebe que sua situação é muito mais alarmante do que imaginava. Ao despertar em um quarto desconhecido, descobre que Annie, com sua experiência como enfermeira, tornou-se sua carcereira. Ela não aciona as autoridades nem chama uma ambulância. Em vez disso, mantém Sheldon preso à cama e sob seu controle absoluto, administrando medicamentos, alimentos e cuidados pessoais de forma obsessiva.

Para o desespero de Sheldon, Annie revela traços perturbadores de sua personalidade. Um exemplo disso ocorre quando ela lê, com a permissão do autor, o manuscrito de sua nova história, Carros Velozes. Desapontada com a qualidade da trama e o uso excessivo de palavrões, Annie exige que Sheldon queime o manuscrito em troca de medicamentos para a dor. Apesar de sua resistência, Sheldon aceita a barganha.

A situação piora ainda mais quando Annie lê a última edição da franquia, O Filho de Misery, que acabara de ser lançado, e descobre que sua personagem favorita, Misery, morre. Enfurecida, ela exige que o escritor escreva uma nova história para a personagem, exclusivamente para ela. Sheldon percebe que essa será sua última criação.

Este resumo de Misery Louca Obsessão obra de Stephen King. Apesar de sua premissa aparentemente simples, centrada em dois personagens e ambientada na casa de Annie Wilkes, a narrativa se destaca como uma experiência horripilante e claustrofóbica do início ao fim. King, conhecido por suas obras sobrenaturais, apresenta aqui uma história aterrorizante sem estes elementos, transformando cada página em um momento perturbador. A presença de Annie, uma vilã complexa e memorável, e o uso preciso do quarto como um terceiro personagem, contribuem para a intensidade do terror.

O verdadeiro charme da trama reside na vilã, Annie Wilkes. Embora Sheldon seja um protagonista relativamente insípido, o leitor torce desesperadamente por sua sobrevivência e pela punição de Wilkes. A complexidade da personagem está em sua moralidade distorcida. Ela detesta mentiras e palavrões e, conforme mencionado, precisou da permissão do autor para ler o manuscrito, quando poderia ter feito isso sem que ele soubesse. No entanto, não hesita em usar a violência física e psicológica de maneira brutal, acreditando que está aplicando uma justiça legítima.

Gradualmente, a trama revela muito sobre o passado da psicopata, criando uma ambiguidade interessante. O início da história pode parecer tratar-se de apenas uma fã apaixonada por um autor e seus livros, que acaba sendo completamente desproporcional no seu convívio  criando um ambiente doentio e tenso. Mas ao aprofundar a psicopatia com o passado dela, desde a infância até crimes horrendos no trabalho com bebês, o autor diminui o impacto imediato das ações de Annie contra Sheldon. 

O exagero, muitas vezes, pode afastar o leitor do contexto da história, resultando em uma certa banalização do terror. Bom, pelo menos comigo, isso ocorre, algumas vezes. O simples fato de uma mulher manter um homem com as pernas quebradas preso à cama já seria suficiente para criar uma atmosfera de tensão e horror. Ao mesmo tempo, compreendo a necessidade de contextualizar esse cenário para preencher os espaços do livro. 

Além disso, a narrativa inclui um subenredo sobre O Retorno de Misery, a história dentro da história que Sheldon está escrevendo para Annie, o que pode gerar controvérsias, mas também reflete as críticas de King à indústria editorial e à vida de escritor. Afinal de contas, não é primeira vez que o autor utiliza um escritor como protagonista, o que abre espaço para sutis e/ou ácidas críticas.

Em resumo, Misery é uma verdadeira joia de Stephen King e uma das suas obras mais notáveis. É recomendada para aqueles que desejam iniciar a leitura dos livros do mestre do horror, destacando-se pela construção de uma das vilãs mais memoráveis de sua carreira. O livro também ganhou uma excelente adaptação cinematográfica, fiel à obra original, com uma atuação notável de Kathy Bates, que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz em 1991.

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