O primeiro plot twist do cinema/ O Gabinete do Dr. Caligari (1920)
O Gabinete do Doutor Caligari é uma obra revolucionária, um clássico do expressionismo alemão, devido às inovações narrativas como o plot twist. Conheça a primeira reviravolta dentro da sétima arte.
por Giovani Zanirati
Os amantes da sétima arte apreciam as impactantes reviravoltas em uma história cinematográfica. Muitas obras, inclusive, tornaram-se imortais devido ao plot twist, que ocasionaram choque e mudaram a estrutura narrativa dos filmes.
O caso mais conhecido entre os críticos e cinéfilos ocorreu em 1960 no clássico Psicose, de Alfred Hitchcock, quando Marion Crane (Janeth Leigh) é assassinada na banheira, pela idosa Norma Bates.
Psicose se desenvolvia de uma forma, um thriller policial, que a morte de Marion girou a chave, na eminência de construir uma espécie de segundo filme.
No penúltimo ato, em outra reviravolta, é revelado que Norman (Antony Perkins), filho de Norma, é o assassino. Ele tinha dupla personalidade e, por muitas vezes, assumia as roupas e a personalidade da falecida mãe.
Obviamente, existem outros casos, que mereciam ser mencionados. Mas o presente texto visa apresentar a primeira grande reviravolta do cinema.
Ocorre um consenso entre os especialistas da área, que o primeiro plot twist no cinema ocorreu em 1920 em "O Gabinete do Doutor Caligari", de Robert Weine. O filme é considerado uma obra-prima do terror e do expressionismo alemão.
Expressionismo alemão
O estilo (inserido em um período pós -1.° Guerra Mundial) ganhou representatividade entre os anos 10 até o início dos anos 30, do século XX. O expressionismo alemão deixou sua marca no cinema e outras áreas da arte, como a literatura, a pintura e a música, devido à marca estética e a temática.
As histórias pessimistas que valorizam a solidão e o irracionalismo individual, as características dos personagens, a maquiagem, os cenários surreais, a fotografia (contraste de luz e sombra) e as atuações teatrais tornaram-se referências à arte subsequente.
O Gabinete do Dr. Caligari faz parte do seleto grupo de filmes que representa um produto histórico do movimento. Ele tem uma importância ainda mais significativa, devido às inovações narrativas à sétima arte, como história-moldura e a reviravolta final.
O Gabinete do Dr. Caligari
O filme gira em torno de Francis (Friedrich Fehér), que relata para um senhor sobre o caos causado pelo Dr. Caligari (Werner Krauss) na pequena região onde vivia. Caligari é um cientista bizarro, que utiliza uma técnica de hipnose para despertar e manipular o sonâmbulo Cesare (Conrad Veidt); que, por sua vez, tinha supostas visões do futuro.
Alguns assassinatos ocorrem na região e, dessa forma, Francis passa a desconfiar que Cesare, sob comando de Caligari, é o responsável. Após investigações, Caligari é nomeado responsável pelas mortes. Durante a fuga, o doutor se esconde em um hospital psiquiátrico. Então, é revelado que ele é o diretor da instituição.
Após estudar durante anos um livro sobre um hipnotista italiano (que se chamava Caligari), o diretor enlouqueceu, assumiu uma segunda personalidade, e começou a realizar na prática o estudo da hipnose.
O objetivo seria, de fato, utilizar uma marionete humana, nesse caso Cesare para cometer assassinatos. Porém, ao ser descoberto pela polícia e pelos médicos da instituição, o doutor maligno foi internado e, por fim, derrotado. Francis obteve a vitória.
Plot Twist.
Na último ato é revelado que Francis é um paciente do hospital. Os demais personagens que aparecem ao longo da obra, como o próprio Cesari, também são internos. Ou seja, todos os eventos ocorridos passaram na mente perturbada de Francis. O suposto vilão, dr. Caligari, é um médico justo, que busca a todo custo ajudar seus pacientes, inclusive Francis.
O final gerou controvérsia. Pode-se dizer que o desfecho é ambíguo ao questionar se Francis é louco ou uma vítima dos métodos de Caligari.
Entre os roteiristas (Hans Janowitz, Carl Meyer) e o produtor (Eric Pommer) ocorreu uma discussão sobre o final. A ideia inicial, consoante os roteiristas, era contar a história de como o dr. Caligari aterrorizou o vilarejo, até ser derrotado por Francis. Porém, Pommer decidiu impor um desfecho diferente, com tudo sendo uma alucinação de Francis.
Ao entender que a ideia era apresentar uma crítica às figuras autoritárias, como simbolismo ao governo alemão, alguns críticos consideram o plot twist decepcionante porque descarta a mensagem crítica e exalta a figura autoritária.
Os pontos são justos. Contudo, mesmo que o filme apresente a "vitória do mal", não significa uma glorificação ao autoritarismo; e, sim, uma perspectiva pessimista da realidade.
Obviamente, pode parecer banal atualmente, mas é necessário entender que se trata de um filme, do início do século XX. Em suma, independente do caminho que o cinéfilo decide percorrer, é inegável o poder que a obra representa, principalmente pela força dramática do ato final.
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