Crítica- Oppenheimer (2023)
Além da cinebiografia do físico teórico. Uma crítica a glorificação estadunidense pela destruição.
por Giovani Zanirati
Oppenheimer (2023)
Diretor: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan, Kai Bird, Martin Sherwin
País: Estados Unidos
Nota: 9,5/10
No dia 30 de julho, aniversário de Christopher Nolan, assisti "Oppenheimer". Desde o lançamento da presente obra, cresceu a procura por pesquisas em torno do cientista, do Projeto Manhattan, da bomba atômica e da Guerra Fria.
Ou seja, mesmo diante muitas "falhas" intencionais ao construir fatos históricos (manipulação da propaganda liberal estadunidense), a sétima arte consegue ser uma ponte à história.
Nesse caso, cabe ao espectador manter um pouco de responsabilidade e procurar diversas fontes de estudo e, dessa forma, divergir e moldar sua concepção.
Em relação ao filme, alguns críticos consideram uma glorificação ao cientista responsável pela bomba atômica e sua terrível consequência direta e indireta à humanidade.
Porém, é possível observar outros caminhos. Afinal de contas, de acordo com outros críticos, o trabalho abre espaço para interpretações.
Por consequência, enxergo como um produto que, além de contextualizar de forma dramática a complexa vida do físico teórico Julius Robert Oppenheimer, apresenta de forma crítica - ou seja, com Nolan se posicionando - a glorificação estadunidense com o espetáculo da destruição e da morte, e a paranoia anticomunista diante a política macarthista.
Nolan está acostumado com esse tipo de estratégia cinematográfica. Ao longo da carreira, desenvolveu filmes de enorme reflexão moral, filosófica e científica.
Em Oppenheimer, baseado na biografia "O Triunfo e a Tragédia do Prometeu Americano" (2005), o cineasta apresenta, diante uma narrativa não linear, a vida de Oppenheimer, desde seus primeiros passos como cientista promissor, até se tornar um homem destruído pelo legado do Projeto Manhattan.
A construção da figura ocorre de forma intimista e ganha um poder importante devido à atuação de Cillian Murphy (em praticamente em todas as cenas) e um forte elenco (com destaque para Robert Downey Jr e Matt Damon).
Com muita cautela, ao costurar o cenário diante diálogos sobre temas complexos e cortes constantes, Nolan entrega o processo da construção da bomba atômica, durante a Segunda Guerra Mundial. Não é fácil presenciar o momento em que o homem busca alcançar o poder dos deuses, assim como Prometeu, que roubou o fogo dos deuses e entregou aos humanos.
Em sequência, o sofrimento moral da responsabilidade que o cientista aceita carregar, após o terrível ataque no Japão, que levou a morte de milhares de pessoas.
Simultaneamente, inclui um processo interrogatório parcial de um arrependido e amargurado Oppenheimer, acusado de ser comunista - devido a uma série de conexões com pessoas à esquerda.
Percebam que a política anticomunista e macarthista foi extremamente violenta. O termo comunista foi citado inúmeras vezes, diante a paranoia estadunidense diante a URSS como se fosse uma ameaça mais representativa que os próprios nazistas.
Dessa forma, abre-se um leque sobre o Projeto Manhattan - um projeto que começou como uma corrida contra os nazistas - que, de acordo com Einstein, poderia criar uma bomba similar- mudou para um ataque final contra o Japão para finalizar a Segunda Guerra (diante uma Alemanha derrotada). Mas que, também, é entendido como o início da Guerra Fria e da corrida armamentista contra a URSS.
Nos aspectos técnicos, o filme beira a perfeição. A trilha sonora de Ludwig Goransson é impressionante devido à potência musical, durante a suas variações. A fotografia é brilhante como se fosse uma exploração de rostos, com várias tomadas impactantes, optando por cenas coloridas e em preto e branco para retratar personagens e o arco temporal
São três horas impactantes, principalmente em seu ato final. A obra de Nolan consegue conscientizar e encantar de forma avassaladora, que demonstram a capacidade do cineasta de redescobrir-se dentro da estrutura narrativa, mas sem perder a identidade.
São diversos elementos que podem ser aproveitados: a ganância e a corrupção humana, o papel da ciência na sociedade, a política estadunidense durante a Segunda Guerra e a Guerra Fria. Mas, obviamente, sem deixar de convencer na apresentação do físico teórico.
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