A Máquina do Tempo de H.G Wells-uma obra marxista e darwinista.
por Giovani Zanirati.
A Máquina do Tempo (1895)
Autor: H.G Wells
País: Inglaterra
Nota: 08/10
Viagem no tempo me fascina. São inúmeras histórias que tratam esse tema de forma tão qualificada que, mesmo diante incoerências, é possível aproveitar e refletir sobre as costuras dos roteiros, muitas vezes dignos de uma teoria quase incompreensível do campo da física.
A possibilidade de mudar o passado ou explorar o desconhecido instiga a mente humana. Imagina, então, encontrar-se diante um futuro milhares de anos a frente. Como vai estar o planeta Terra? A organização da sociedade? O desenvolvimento da tecnologia?
O livro "A Máquina do Tempo" (1895), de H.G Wells (1866-1946), responsável por clássicos como O Homem Invisível (1897) e Guerra dos Mundos (1898), é um dos primeiros a abordar essa narrativa dentro da literatura.
Antes de falar propriamente da história, é necessário ressaltar o poder de Wells. Nascido em Londres, no Reino Unido, ele é visto como um visionário e suas obras tornaram-se referência para a ficção científica.
Com o passar dos anos, o legado do autor pode ser observado dentro da sétima arte com diversas produções. O Homem Invisível, por exemplo, ganhou, desde a década de 30 do século passado, uma enorme quantidade de adaptações cinematográficas.
O livro
A história do livro começa com O "Viajante do Tempo", personagem principal, um homem do século XIX, que explica para um grupo de curiosos que conseguiu criar um pequeno protótipo capaz de viajar no tempo. Obviamente, o cientista é desacreditado. Porém, ele promete que numa próxima reunião os céticos seriam convencidos.
Na reunião, eles são surpreendidos pelo estado deplorável do cientista. Ele estava abatido, como se tivesse enfrentado um terrível confronto em uma guerra. O cientista, então, explica que conseguiu criar uma máquina. Ao utilizá-la, descolocou-se para o futuro.
O Viajante, dessa maneira, inicia a narrativa para os amigos.
Ele foi para o ano de 802.701. Nesse futuro, segundo o mesmo, a sociedade seria supostamente utópica, sem classes, sem propriedade privada e sem exploração do homem pelo homem. Uma sociedade livre do consumismo, da alienação e da corrupção.
O mundo é conduzido pelos Elois, uma adaptação da espécie humana. Eles são pequenos e frágeis fisicamente. Apresentam linguagem e costumes diferentes. A solidariedade e harmonia também são características do presente grupo.
No entanto, escondidos no submundo, existem os Morlocks, uma nova raça. Eles representam o oposto dos Elois. São agressivos, mas extremamente inteligentes. O grupo, que sobrevive de migalhas, tem como principal objetivo alimentar-se dos rivais.
O viajante, dessa forma, em meio ao confronto, encontra-se em uma luta pela sobrevivência e pelo retorno ao passado.
Críticas sociais e aventura
Wells foi promissor ao debater sobre o tempo como quarta dimensão.
Porém, ele avança e debate significativamente sobre questões sociais. Essa marca encontra-se em outras obras, o que reflete sobre o senso crítico do autor. Em A Máquina do Tempo, ele abre espaço para reflexões marxista e darwinista.
O autor discute sobre o caminho adotado pela sociedade e as consequências sombrias do sistema Imperialista. Com o passar dos anos, a desigualdade ficou tão explícita e violenta, que modificou biológica e socialmente os seres humanos.
Por consequência, o avanço da tecnologia e a expansão das relações comerciais serviram para concentrar a renda nas mãos de um grupo dominante e isolado no topo da pirâmide social, enquanto a classe mais baixa sofreu com a miséria e a opressão.
No futuro de Wells essa divisão evoluiu no mundo, onde Elois estão adaptados a uma vida próspera no topo da cidade (uma consequência dos benefícios da classe dominante) e dos Morlocks que são adaptados a fome e a escuridão (uma consequência da miséria da classe baixa e trabalhadora).
Este mundo pessimista é o reflexo do período do autor, mas que se encontra visível presentemente.
Além de conduzir uma crítica feroz, o autor constrói uma aventura envolvente, de tirar o fôlego, nutrida de suspense. É, sem dúvidas, uma excelente obra que deve estar presente na biblioteca dos amantes da literatura.
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